Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
03 de janeiro de 2011 | N° 16569
FABRÍCIO CARPINEJAR
Quebra-cabeça de 5 mil peças
Troco os objetos de lugar para que minha mulher fale comigo.
Funciona perfeitamente. Ela que demora a colocar a alma no corpo de manhã acaba conversando mais do que esperava.
– Onde está meu cinto?
– Viu meu celular?
– Cadê meus óculos de sol?
Vou respondendo como um quiz show, um sábio dos esconderijos:
– Na segunda gaveta.
– Está carregando na sala.
– No porta-luvas do carro.
Forjo importâncias. Com o pretexto de salvá-la dos atrasos do trabalho. Ela acorda às 8h30min, tem meia hora para se arrumar e outros 30 minutos para chegar à clínica.
É evidente que ela não perderia tempo se eu deixasse sua bagunça em ordem, acharia mais rápido as urgências, mas crio uma falsa eternidade, uma falsa ordem, para dar a sensação que cuido dela e ainda me preocupo com a limpeza.
O marido mais torturador é o metido a faxineiro. Não vem com o caminhão de mudança, é o caminhão de mudança. Aquele que entra em sua casa como namorado e, na primeira semana, promove uma limpeza geral, com o objetivo de recuperá-la dos vícios. Trata-se de um escorpiano ou um dominador. Ou os dois. A disposição é tanta que passa a temer sua intenção de preparar a salada de maionese do churrasco.
O tipo não se contenta em exercitar seu transtorno obsessivo-compulsivo, pretende emprestá-lo. É um TOC solidário.
Você conclui que foi uma ideia estúpida alcançar uma cópia da chave. A chave é a verdadeira escova de dente que inicia o casamento. Toda a fechadura é um copo que transborda.
Mal entra na sala, enxerga o piso brilhando, encerado, e bate o pavor: as pilhas de papéis importantes estão guardadas não se sabe onde, quer cortar a unha e a tesourinha desapareceu da mira, o prontuário de receitas repousa em uma caixinha anônima na lavanderia. Afora as toalhas, as calças, os vestidos.
E nem pode reclamar, nem pode xingar. Porque os piores atos são feitos para o bem. E isso é um costume do amor.
O arranjo das flores no centro da mesa pede sexo de agradecimento. E ficará chato dizer: “Não toque mais nas minhas coisas”. Engolirá a raiva e permanecerá entontecida em seus próprios domínios, tentando completar diariamente o quebra-cabeça de cinco mil peças.
Uma mulher odeia que a gente mexa em sua bolsa, mas não fez nenhuma restrição em alterar o trajeto dos seus pertences fora do ferrolho. Não colocou nas resoluções do condomínio.
Coitada de Cínthya. Tirou a chave da bolsa, já é minha. Tirou o pente, já é meu. Tirou o filtro solar, já ponho no armário do banheiro.
E ela pensará em mim várias vezes durante o expediente.
– Onde que ele colocou, onde ele colocou, onde ele colocou... minha vida? E não devolvo.
Excelente segunda-feira. Uma ótima semana, um gostoso mês de Janeiro e um maravilhoso 2.011
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