sábado, 22 de janeiro de 2011



22 de janeiro de 2011 | N° 16588
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


Tipos Populares do Alegrete (final)

Eram muitos os tipos populares do Alegrete nos tempos da minha distante adolescência. O lado bom desse fato é que o povo da cidade – a não ser alguma gurizada malacara – tratava todos muito bem, quase sempre com carinho e com respeito.

Um desses tipos era o Orango, negro forte e feio, mas muito simpático e amigo da gurizada. A gente chegava para ele e dizia: “fala inglês, Orango” e ele falava: “oia,oia,oia o ingrêis”. “Fala francês, Orango: oia,oia,oia, o francêis”. Sorria sempre e era muito camarada.

Outro tipo popular era o Batata. Era um tipo patético, ainda moço, dizia-se que tinha comido uma irmã e o pai simplesmente capou o Batata e o expulsou de casa. Era um homem normalmente triste. O Batata tinha um costume impressionante: ele sempre sabia quando tinha casamento na bela igreja matriz da cidade.

Então na hora que os noivos saíam da igreja, já casados, a noiva resplandecente no seu belo vestido branco, o Batata estava – sempre, sempre – vestido da melhor maneira que podia na porta da igreja, chorando convulsivamente...

O Adão Carboreto era um mulato forte e loquaz que às vezes dava susto na gurizada saindo da sombra da noite ameaçadoramente. Mas não fazia mal a ninguém. Esse apelido advinha do cheiro forte que exalava, tipo os lampiões de carbureto que ainda eram muito usados na periferia urbana.

Outro tipo popular era a Benvinda, uma velhinha esmirradinha, magrinha, pequena, que usava uma touca feita de meia de mulher. Ela era fanhosa e tinha lábio leporino. Andava sempre na Rua General Sampaio, ali atrás do Colégio Osvaldo Aranha.

O Caruncho era um guri bulhento, mais arteiro do que louco, protegido da família Crispim, que era respeitada, por isso ninguém batia o brim do Caruncho, como ele merecia.

Outro tipo importante na sociologia alegretense da época era o Quixote, protegido pela família Fialho. Era magro como uma bicicleta, cara fina, com nariz adunco, que caminhava meio curvado para a frente, sempre balanceando os braços. Era um tipo inofensivo.

Outro tipo popular importante era o mudo da delegacia, um mulato ágil, que se expressava só com gestos e grunhidos. Na época, o que hoje se chama de fofoqueiro, se dizia “falador”.

E o mudo era o maior falador do Alegrete: passava uma moça (ele estava sempre na porta da delegacia) e ele olhando para ela e para os outros fazia gestos que indicavam atividade sexual da transeunte. Passava um cidadão e ele, quando o via pelas costas, fazia gesto de roubo, ou de chifre, ou de homossexualidade e assim era o maior falador do Alegrete.

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