quinta-feira, 20 de janeiro de 2011


CLÓVIS ROSSI

Fala, mas não faz

SÃO PAULO - Qualquer análise que se queira fazer sobre o poder público brasileiro, o de hoje e/ou o de sempre, deveria ter como epígrafe a seguinte frase: "A gente falou muito e fez muito pouco".
Seu autor sabe do que está falando e não está fazendo. É Luiz Antonio Barreto de Castro, ex-secretário de políticas e pesquisas do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Como tal, responsável por um dos milhares de projetos do governo que não saem do papel, mas quase ninguém nota. Dessa vez, o governo deu o azar de que ocorreu uma tragédia de dimensões históricas no Rio de Janeiro e descobriu-se que o governo "fez muito pouco" (na verdade, não fez nada), embora tivesse "falado muito", cinco anos atrás, ao anunciar um plano de prevenção que regurgita agora.

Regurgita e cuida de impetrar habeas corpus preventivo para sua proverbial ineficiência, jogando para dentro de quatro anos os resultados do plano tão falado e tão pouco feito. Talvez, dentro de quatro anos, o distinto público já tenha esquecido do plano "falado" em 2005 e "refalado" em 2011.

Para completar o retrato acabado do poder público -municipal, estadual, federal, do Rio, de São Paulo, do Norte ao Sul-, falta apenas acrescentar que o Estado deixou de servir ao público e passou a servir prioritariamente a seus próprios agentes, mais ainda se são políticos, do Executivo ou do Legislativo. Talvez tenha sido sempre assim, mas o deboche tornou-se obsceno nos últimos muitos anos.

PS - Rudá Ricci e frei Betto reclamam, com razão, de que seus livros sobre a era Lula não figuraram no resenhão publicado no domingo pela "Ilustríssima". Dizem que os textos escapam à maldição de serem ou mera propaganda do lulo-petismo ou puro ódio a ele. Registro a queixa, por justa, mas peço ao leitor que confira se Ricci e Betto fugiram mesmo à maldição.

crossi@uol.com.br

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