sábado, 15 de janeiro de 2011



16 de janeiro de 2011 | N° 16582
PAULO SANT’ANA


O chato da roda

É fácil identificar um chato numa roda de papo. Em primeiro lugar, é só ele que fala.

E, quando o chato toma um fôlego e outra pessoa fala, o chato não fica prestando atenção no que o outro diz: porque está concentrado mentalmente nas ideias preparatórias do seu próximo longo discurso.

O chato pensa, na sua morbidez, que aquela roda de conversa foi feita, talhada, para ele.

E tem na cabeça a certeza de que nada ali terá aproveitamento se ele não expuser solitariamente os seus planos e as suas conclusões.

O chato, aliás, imagina que o mundo foi feito só para ele existir e para contemplá-lo.

O verdadeiro chato é aquele que ensaia em casa, com um dia de antecedência, tudo que ele vai dizer na roda de bar do outro dia ou no coquetel, ou no aniversário, ou em qualquer evento propício à aparição súbita de um chato.

Outra marca do chato é que ele entende de todos os assuntos. Ele lidera a roda que está falando em futebol, mas se o assunto for trocado para cerâmica, é ele quem mais conhecerá o novo tema.

Outro vezo do chato é que ele está com a palavra e em seguida outro da roda assume a conversa. Daquele outro que assumiu a fala, a titularidade da conversa passará obrigatoriamente para o chato de novo. Fala o chato e volta a fala para um terceiro.

Do terceiro, a fala se transfere novamente para o chato. E, assim sucessivamente, falam os oito da roda, mas sempre entremeados pelo chato.

Ou seja, numa roda em que há um chato presente, jamais uma terceira pessoa se dirigirá para uma quarta, o chato intermedeia todas as conversas e assuntos.

Em suma, numa roda de oito pessoas conversando, o chato será dono do discurso dominante, enquanto aos outros sete caberá apenas darem bicadas.

Não há quem deteste mais os garçons do que o chato. É simples: como, na roda de bar, o chato está sempre com a palavra, quando o garçom chega para servir ou perguntar se querem alguma coisa, ele interrompe sempre, é lógico, o chato. E nada mais irrita um chato do que interrompê-lo.

Por falar em garçons, a demora proverbial dos garçons em atender às mesas encontrou por mim uma reação.

Quando um garçom demora para me atender, eu digo sempre a ele: “Vamos fazer, por favor, o seguinte: o senhor passa aqui na minha mesa de 30 em 30 minutos, que eu posso estar querendo pedir algo. Se for penoso para o senhor passar aqui de meia em meia hora, me deixe o número do seu celular”.

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