sábado, 22 de janeiro de 2011



23 de janeiro de 2011 | N° 16589
GRÊMIO


O tri vale milhões

A estreia de quarta-feira em Montevidéu contra o pequeno Liverpool reinstala na torcida do Grêmio a saga do eterno sonho da Libertadores. A ansiedade aumenta, provoca aflição por contratações, contagia as discussões e contamina a paixão que se mostra na rua em camisetas e artigos de passeio.

Se o time de Renato mantiver a torcida inflamada até o título, os gabinetes do Olímpico estimam embolsar mais R$ 20 milhões além do orçamento de R$ 130 milhões. O tricampeonato e a ida a Tóquio chamaria outros 20 mil sócios que depositariam R$ 6 milhões nos cofres.

Foram sete tentativas desde o bi de 1995, e só o sucesso redimiria as derrapadas em contratações do início do ano.

De quebra, combinaria com o surgimento dos primeiros pilares da construção da Arena.

Oadvogado Juarez Jover faz a sua parte de torcedor. Sempre que pode envia um torpedo endereçado ao amigo Antônio Vicente Martins, o vice-presidente de futebol do Grêmio. O texto é curto e varia muito pouco:

– Vicente, e o Mascherano? Vamos trazer o Mascherano.

Nas ligações pelo celular, a conversa apresenta o mesmo desfecho:

– Não esqueça do Mascherano!

Entre o tom jocoso e sério, Jover vai fazendo sua pressão como torcedor. Quer Mascherano porque, em ano de Libertadores, é preciso colocar no time um gringo que se entenda em campo com o árbitro de língua espanhola. O Vicente Martins não aguenta mais tantas sugestões. Cada ideia louca tem suas justificativas.

– O Mascherano é reserva no Barcelona. De repente... Como não há notícia de algum neto do Dinho, é preciso procurar um volante daqueles que usa botina, não chuteira – discursa Jover, também conselheiro do clube.

A volta à Libertadores tem disso. Aparecem dicas de contratações que negam qualquer sintonia com a realidade. Não importa que o Barcelona tenha pago R$ 49,2 milhões pelo volante argentino, o que importa é que o Grêmio tem de se armar para o tri.

Se a direção fosse atender à avalanche de e-mails que batem nos computadores da central de relacionamento do Olímpico, teria de contratar dois times novos crivados de craques até no banco de reservas.

Pela ansiedade geral do momento, é possível estimar um faturamento de R$ 20 milhões a mais por conta da Libertadores. A GremioMania do Olímpico revela isso. Logo que a equipe garantiu vaga no G-4 do Brasileirão, as vendas de dezembro estouraram em R$ 2,4 milhões, um valor jamais visto na história da loja.

Não à toa o janeiro desponta com 30% a mais comparado ao mesmo mês de 2010. Vai faturar duas mil peças a acima do normal e fechar a conta em R$ 1 milhão, uma façanha para este período de férias e cidade vazia.

Só a paixão vitaminada pela Libertadores explica tamanha procura por camisas de jogos oficiais, de treinos, de passeio, bonés e uma infinidade de quinquilharias até o chaveirinho.

É na porta da Libertadores que o torcedor mais se transforma em cliente-fiel.

– Conheço ex-marido, ex-cabeludo, ex-padre, não conheço ex-gremista – justifica o gerente João Basílio, da GremioMania.

Esta é a oitava temporada atrás do tricampeonato, após o bi de 1995. Só nos anos 2000 já foram quatro tentativas, a última delas em 2009. Adiciona-se a isso o ingrediente da derrota do Inter no Mundial de Abu Dhabi. O dezembro incendiou o orgulho, bateu nas vendas e justificou a ousadia da tentativa de contratação de Ronaldinho.

Vicente Martins assistiu à conquista da Libertadores de 1983 sobre o Peñarol alojado na arquibancada atrás da goleira da Carlos Barbosa. Na decisão de 1995, viu da cadeira do Olímpico o primeiro jogo diante do Nacional, de Medellín, e conferiu a finalíssima na casa de um amigo conselheiro.

Lembra de ter acabado com a buzina do carro vagueando pela cidade, sem saber para onde ir. Àquela época, simples torcedor, Vicente também pedia contratações como o amigo que hoje o atazana.

Só não exigia nomes como Mascherano.

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