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terça-feira, 11 de janeiro de 2011
ELIANE CANTANHÊDE
De utilidade pública
BRASÍLIA - Durante anos, depois da ditadura militar, cidadãos e organizações civis perguntavam por que raios o Brasil, país tão pacífico, tinha de gastar fortunas com Exército, Marinha e Aeronáutica.
Com sua formidável fronteira a oeste e um litoral infindável a leste, o país tradicionalmente mantém relações amigáveis com os vizinhos, desde o Uruguai até as Guianas.
Hoje mesmo, ninguém leva a sério as bravatas de Chávez, as Farc são uma fera desdentada, não se detectam ameaças num horizonte de léguas ou de décadas à frente.
Fofocas e muxoxos limitavam-se à Argentina, só para os oficiais se distraírem com aulas de estratégia e guerras imaginárias e para os civis arrancarem os cabelos durante jogos de futebol. Na prática, argentinos e brasileiros têm uma relação cada vez mais cordial.
Somando isso à obscena distribuição de renda brasileira, houve apaixonada discussão: já que não havia guerras reais, que tal ocupar o Exército com a guerra social?
Assim foi feito, com oficiais e soldados envolvendo-se crescentemente em construção de estradas, escolas e hospitais, enquanto lanchas da Marinha e helicópteros da Aeronáutica mergulharam na selva para socorrer feridos, resgatar perdidos, participar de operações de vacinação e coisas do gênero.
De forma lenta, gradual e segura (como a distensão política), as Forças Armadas também foram adquirindo papel de polícia, primeiro nas fronteiras, agora nos conflitos urbanos, com uma longa preparação jurídica e cuidadoso treinamento.
O Sisfron, novo sistema de monitoramento das fronteiras terrestres, é resultado de tudo isso. Trata-se de um projeto militar, mas interligado a sistemas policiais, da agricultura, meteorológicos, de proteção aos índios e vai por aí afora.
Assim, as Forças Armadas concluem um ciclo: cuidam da defesa nacional e também da segurança interna. E o cidadão, sem temer nenhum golpe, sabe por que gastar dinheiro com elas.
elianec@uol.com.br
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