terça-feira, 25 de janeiro de 2011


CARLOS HEITOR CONY

Fadiga de material

RIO DE JANEIRO - O homem se autoproclamou rei da criação. Nada contra: o homem é rei das pulgas e siris, que nunca chegaram à perfeição de fabricar videocassetes de quatro cabeças nem tesourinhas de unha.

Semana passada, jornais do mundo inteiro deram um alerta sobre o aquecimento global da Terra, explicando a recente sucessão de desastres naturais, terremotos, erupções vulcânicas, furacões, tornados e enchentes: a terra treme, título por sinal de um antigo filme italiano.

E a culpa de tudo, segundo os entendidos, é do homem que polui a camada de ozônio, massacra as florestas, envenena os rios, destrói as espécies. Evidente que tudo o que o homem faz, mais cedo ou mais tarde, pode se voltar contra ele. Mas, no caso dos desastres naturais, o que realmente conta é a fadiga do material.

Tudo o que foi criado um dia acaba ou se renova em outro acidente da própria criação. As estrelas morrem, muitas estão extintas há milhões de anos, mas sua luz ainda chega até nós. O Sol, que nos fornece energia, é uma estrela de quinta grandeza, um dia será consumido pelos próprios raios e rolará pelo espaço como um cadáver insepulto. E com ele, irão para o brejo todos os planetas que vivem em torno dele, independentemente de nossas usinas, carros e cigarros.

A extinção dos dinossauros é ponto pacífico da ciência, houve uma alteração no ambiente que tornou impossível a sobrevivência daqueles monstros -embora existam alguns por aí e às vezes eu próprio me considero sobrevivente daquela era.

Mas haverá um momento em que a vida, tal como a que conhecemos e usufruímos, não será possível no ambiente que está sendo criado, lentamente, com a ajuda ou sem a ajuda do homem, mas por força da matéria cada vez mais fatigada.

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