18 de janeiro de 2011 | N° 16584
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Imaginação ao poder
Sempre gostei do slogan aí do título, um clássico sessenta-e-oitista: “Imaginação ao poder”. (Havia outros pra mim menos eloquentes, como “Deus está solto” ou “É proibido proibir”, mote de polêmica canção de Caetano Veloso.)
Na adolescência, eu tinha um pôster com a frase (em espanhol, não sei por quê), com um arco-íris sobre fundo preto, formando o conjunto um programa completo na minha fantasia: chegar ao poder, mas chegar com imaginação; deixar a imaginação alcançar o poder, que na época era tudo menos imaginativo – a ditadura militar era visivelmente burra, não gostava da inteligência, da arte, da cultura, muito menos nas versões criativas.
O tempo passou e ainda agora Dilma Rousseff (de vez em quando eu ainda olho para ela e penso “Dilma Linhares”, sobrenome que ela teve por algum tempo, em função de casamento) assumiu a presidência da República. Primeira mulher no cargo, ex-militante de esquerda.
Em sua posse, na festa, muitos companheiros de jornada lá estavam, alguns em cargos, outros apenas para brindar, uns quantos apenas na memória, e por tudo, eu aposto, andava um sentimento de dever cumprido, ou melhor, de esperança atendida: de alguma forma, a imaginação chegava ao poder, aquela imaginação que era reclamada pelos opositores da burrice e do autoritarismo, quer dizer, nós aqui, gente de classe média mais ou menos culta, como a atual presidente e eu, quem sabe também o prezado leitor.
Vendo a posse, me atravessou a cabeça um pensamento trivial mas, em outro sentido, poderoso: se não tivesse havido o maldito golpe de 64, ou pelo menos se não tivesse havido o extremo fechamento em 68, a agora presidente, assim como o agora governador, provavelmente teriam se aproximado das posições de mando pela via da eleição mas já nos anos 70, se não nos 60 mesmo.
Seriam jovens, com ganas de acertar o país – uma gana que as gerações seguintes quase não apresentaram mais –, e estariam cumprindo sua trajetória a tempo e hora. Teria sido possível passar pelo Legislativo, por cargos menores, para finalmente alçar os voos maiores, tudo em seu tempo, como ocorria em países sem ditadura, em países com eleição e liberdade, coisas que nos eram negadas.
Muitos políticos que apoiavam a ditadura tiveram carreira facilitada desde a juventude, e por isso puderam aprender os bastidores e as berlindas na flor dos 20 ou 30 anos. Não vou ficar aqui lembrando nomes desse grupo porque não interessa (mas seria curioso confrontar os currículos destes e dos opositores, não seria?).
Mas queria mesmo era mais uma vez maldizer, sem efeito algum salvo o meu desabafo, a existência da ditadura militar brasileira. E tenho maldito!
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