terça-feira, 11 de janeiro de 2011



11 de janeiro de 2011 | N° 16577
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Faltou dizer

Acompanhei neste início de ano uma apresentação em que empresários faziam um balanço de sua caminhada ao longo de 2010. Foi todo um coquetel de números, percentuais, balanços, curvas de lucro, escaladas de ranking e uma porção de cifras mais. Sobrou lugar para pitadas de vaidade, orgulho de conquistas, vitórias sobre as sendas instáveis e volúveis da economia.

Mas faltou algo essencial. Ninguém se lembrou de temperar a salada de algarismos com alguns fatos básicos que deveriam orientar nossa comum trajetória sobre a Terra.

Falo de coisas sem cotação na Bolsa, sem pregão nos mercados e, no entanto, donas de mais valor do que uma ação blue-chip. Me refiro a bens sem preço e que contudo deveriam ser medidos pelos mais altos índices de apreciação humana.

Não ouvi ninguém falando do GFC – Grau de Felicidade Coletiva – de sua empresa.

Não escutei menção ao NSG – Nível de Satisfação Global – de seu empreendimento.

Não percebi alusão à MBG – Média de Bem-estar Geral – da companhia.

Pois, muito além das moedas sonantes, é disso que se tece a vida.

Muito além dos valores palpáveis, a existência de cada um se constroi de alguns artigos imateriais.

Como o quê?

A fraternidade, que nos faz sentir um pouco irmãos uns dos outros. A solidariedade, que é uma mão estendida – e não só nos momentos de dificuldade. A harmonia, que como um maestro invisível nos faz tocar os mesmos acordes dessa imensa orquestra que é a vida.

A amizade, que, feita de afeição e carinho, aproxima e integra as pessoas mais diversas. A cordialidade, uma palavra que deriva de coração, e tanto como este é signo de união. A coerência, que é o segundo nome de algo chamado de simetria de propósitos e princípios.

E muito mais calaram os ilustres palestrantes, deixando exposta uma verdade cada vez mais ausente de nossa caminhada: a de que a vida, muito mais do que matéria, é também espírito.

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