quinta-feira, 13 de janeiro de 2011


ELIANE CANTANHÊDE

Caindo na real

BRASÍLIA - São Paulo se afoga em lama e em lágrimas, o Rio de Janeiro empilha cadáveres, o Sudeste inteiro vê casas e encostas sendo carregadas pela enxurrada.

Os cidadãos que entulham os rios com plástico (a foto de Juca Varella na Folha de ontem é chocante) culpam os governos, e os governos culpam são Pedro -ou "a chuva excepcional", como disse o governador Alckmin, com a "excepcionalidade" se repetindo teimosamente depois de 16 anos de PSDB no Estado. E com o aliado Kassab incapaz de usar a verba disponível.

Quanto a Dilma Rousseff, por onde anda, o que faz, o que diz e o que pensa sobre a tragédia?

Conforme anúncio do Planalto, ela vai repetir hoje o percurso de ontem do ministro da Integração, sobrevoando a região serrana do Rio, cruelmente devastada. Certamente vai potencializar a promessa de milhões da Saúde, dos Transportes, do Meio Ambiente, disso e daquilo até o Carnaval chegar. Não necessariamente o deste ano.

Será um bom teste para Dilma, que vem fazendo um contraponto com Lula, que adorava palanques, holofotes, horário nobre e capas de jornais. Desde a eleição, Dilma deu uma coletiva em Brasília, depois gravou algumas declarações na reunião do G-20, em Seul e, por fim, brindou o "Washington Post" com uma entrevista exclusiva de grande repercussão. Ao assumir, sumiu, calou-se. Prefere trabalhar em silêncio, ou trabalhar a aparecer.

Do ponto de vista de gestão, uma opção e tanto. Do ponto de vista de popularidade, sabe-se lá?! O país está embriagado de oito anos de imagens, símbolos, frases de efeito, emoção e maneirismos. Não vai ficar abstêmio da noite para o dia.

Assim, ao sair dos palácios e cair na real, Dilma deve estar calculando milimetricamente até onde ir, o que falar, que roupa usar, que expressão mostrar. Ou... que personagem assumir. Nem pode se passar por técnica insensível nem pode repetir Lula. Porque não é Lula.

elianec@uol.com.br

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