sábado, 29 de janeiro de 2011



29 de janeiro de 2011 | N° 16595
PAULO SANT’ANA


A dor de garganta

Naquela vez em que desmaiei na barbearia, faz 60 dias, me mandaram para o Pronto Socorro.

Pedi que fosse até o HPS o Dr. Matias Kronfeld, meu assessor para assuntos médicos.

De lá do HPS me transferiram para o Hospital Moinhos de Vento, onde já se encontrava à minha espera, desta vez por acaso, outro guardião da minha saúde, Dr. Jorge Gross.

Cheio das cautelas próprias de um clínico e endocrinologista, Jorge Gross me obrigou a que me submetesse a uma ressonância magnética, com contraste, com a finalidade de averiguar se meu colapso (desmaio) na cadeira do barbeiro não tinha se originado em uma isquemia cerebral, que foi afinal o que levou o nosso querido Moacyr Scliar a esse impasse em que se encontra no Clínicas, de onde se Deus quiser ele sairá airosamente.

Quando ouvi que a ressonância magnética seria com contraste, me pus em pé de guerra: “De jeito nenhum. Com contraste eu não faço. Jamais”, gritei para que todos os atendentes e médicos que me cercavam ouvissem.

É que tenho horror a injeção na veia (por onde passa o contraste).

Depois de muito tentarem me convencer ao contraste e me assustarem o suficiente, cedi, mas da seguinte maneira: me sedariam e fariam o que quisessem da minha veia, eu não estaria nem aí.

Foi assim que me entubaram por um simples desmaio na cadeira do barbeiro.

Fui entubado, submetido à carniçaria da veia invadida por uma agulha, por ali passava um tubo, ou sei lá o que, que inoculava o contraste no meu sangue.

Tudo bem, não havia isquemia na ressonância magnética. O Dr. Gross deve ter ficado satisfeito com a judiaria que me fizeram, ele que é cioso do princípio de que, se for para o bem ou salvação do paciente, não importa que ele sofra um pouco, se não há outro caminho a seguir.

O Dr. Matias Kronfeld assistia a toda essa performance ritualística com aquela sua bonomia proverbial.

Eis que, dias passados, depois de não ter sido diagnosticado o meu desmaio, o sexto que já tive depois que descobriram em mim o diabetes, há 14 anos, queixei-me a Kronfeld de uma dor de garganta insistente.

Só fomos descobrir que a dor de garganta era advinda da minha entubação (trauma na epiglote) depois de eu ter ingerido em 15 dias 30 comprimidos de poderosos antibióticos.

Assim é que até hoje ainda não cessou minha dor de garganta, faz 60 dias. Não há o que fazer, disse o Dr. Nédio Steffen, autor da minha laringoscopia que constatou o trauma, tenho só que esperar, o tempo fará cessar a dor.

Ah, o tempo, esse carrasco que parece irá me perseguir até o fim dos tempos!

E engraçado é que dor de garganta só dá quando se engole. E, como é impossível sobreviver sem engolir, eis a dor.

Enquanto isso, os leitores vão ter de me engolir.

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