sábado, 29 de janeiro de 2011


HÉLIO SCHWARTSMAN

Bismillah

SÃO PAULO - "Bismillah al rahman al rahim". Em nome de Deus, o clemente, o misericordioso. Não sei quais são os planos de Allah para Hosni Mubarak e o Egito, mas devo confessar que estou dividido.
É sempre um prazer ver ditadores levando a pior.

Mas -sempre há um "mas"-, na hipótese de Mubarak ser mesmo defenestrado, é pouco provável que o Egito se converta numa república anarco-autonomista. Como a política tem horror ao vácuo, alguém ou alguma estrutura de poder ocupará o lugar vago.

No momento, vislumbram-se dois candidatos. O ex-diretor da agência nuclear da ONU e prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, viajou às pressas para o Cairo para tentar surfar na onda do movimento, cacifando-se como líder unificador da oposição. Tem a seu favor uma boa reputação internacional.

Contra si, há o fato de que é quase um estrangeiro (vive no exterior há décadas) e pode ser facilmente rotulado como um Mubarak "light" (sua eventual ascensão representaria mais uma troca de guarda do que uma verdadeira revolução).

Um candidato mais verossímil é a Irmandade Muçulmana, grupo islâmico que goza de bastante popularidade. Mesmo sendo ilegal, conseguiu fazer 88 deputados "independentes" (20% do Parlamento) no pleito legislativo de 2005.

O problema com a Irmandade Muçulmana é que ela é muçulmana demais. Uma de suas várias ramificações é o Hamas palestino que, depois que chegou ao poder na faixa de Gaza, passou a impor restrições de caráter religioso à população e a perseguir membros da oposição.

Uma possível entronização da Irmandade Muçulmana no Egito não só viraria do avesso a geopolítica do Oriente Médio como ainda poderia levar ao estabelecimento de uma nova teocracia na região.
Dá para conciliar um Estado religioso com democracia?

Ou o regime de liberdades só é possível se houver uma forte laicização da sociedade, a qual ocorreu no Ocidente mas não no islã?

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