Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
31 de janeiro de 2011 | N° 16597
FABRÍCIO CARPINEJAR
Couvert familiar
Todo pai deve se preparar para o vexame. Um dia seu filho terá uma banda de rock.
A formação do grupo é meteórica, inexplicável como sua dissolução. Não se planeja uma banda, acontece, como um beijo, uma fofoca, um suspiro. Ou porque seu guri está entediado e não tem nada a fazer ou porque é ambicioso e corre atrás de tudo que pode ser feito.
O ato é banal como criar um blog e aderir a uma rede social. Talvez nem seja informado, acabou o tempo em que conversar com o pai era coisa séria, antes a criança preparava o terreno com a mãe, avisava o assunto com antecedência, reservava o escritório.
Descobriu a novidade por acaso, ao assistir um vídeo no YouTube. Demorou a reconhecer o filho, que balançava os cabelos como uma vassoura, mas identificou a própria cama e também as cuecas samba-canção, queimadas num estranho protesto do quarteto a favor das baleias. Será um golpe duro, não tinha consciência de que seu filho tocava ou cantava. Nem o filho sabia.
Se você pensava que havia terminado o martírio das exibições escolares; se você dava graças a Deus pelo fim do ciclo dos teletubbies, dos bichinhos da parmalat, dos bananas de pijama; se você comentava que não havia coisa pior do que aplaudir 15 turmas com coreografias exatamente iguais; se você não aguentava o enxoval das fantasias, os ensaios que tomavam os finais de semana e exigiam caronas para cima e para baixo; se você se enxergava livre da obrigação de filmar cada cena e brigar a cotoveladas com o conselho inteiro de pais e mestres pelo melhor ângulo junto ao palco;
se você confiava que não passaria mais pela humilhação de mentir na saída que foi lindo e emocionante e deu um basta ao constrangimento de suportar três horas de pé esperando uma ponta de cinco minutos; se você jurava que não ouviria mais nenhum sermão de diretor profetizando que o futuro é das crianças; se você já se sentia um veterano de guerra, disposto a empinar o peito com as medalhas; se você já entrava com a papelada da aposentadoria, comece a mudar de ideia: seu adolescente é roqueiro.
Deprimente é ouvir como se chama a banda dele, sempre uma nomeação esdrúxula a indicar rebeldia. Grande chance de ser alguma doença venérea: Gonorreia, Sífilis, Herpes. Sorte grande se ficar no corredor dos detergentes e for Diabo Verde ou Pinho Sol.
Na terapia, o que lamentará mesmo é ter brigado com a esposa pelo nome do filho.
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