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sábado, 15 de janeiro de 2011
16:03, 13 de janeiro de 2011 -Haroldo Castro
Em noite escura sem lua, o deserto de Akakus é ainda mais intrigante
O sol começa a baixar, as cores se tornam mais carinhosas e a temperatura não é tão ofegante. Quem escolhe o local do acampamento onde passaremos nossa primeira noite no deserto é Ezddin Barka, o motorista. Ele é originário de Sebha e conhece o deserto de Akakus como a palma de sua mão.
Seus pontos de referência são os grandes monumentos naturais e ele sabe exatamente quais são suas necessidades logísticas. “Preciso de um lugar plano e sem lixo”, afirma Barka. “E abrigado do vento.”
Barka decide que os dois carros ficarão, para a noite, atrás de algumas formações rochosas insólitas, protegidos do vento.
Aproveito a luz do final da tarde para caminhar, sozinho, entre rochas e dunas. O silêncio é o que mais chama minha atenção. Em poucos minutos, encoberto por uma maré de areia, já não vejo o acampamento ou os carros. Sigo a estratégia de Barka: considerar as montanhas de formas peculiares como indicadores de minha posição para não me perder.
O instinto obriga-me a subir uma duna para conseguir ter uma visão mais ampla. Lá de cima, posso reconhecer melhor o terreno. No topo da montanha de areia, a marca divisória das duas vertentes transforma-se em uma trilha natural. Posso caminhar apenas em duas direções, sempre seguindo a crista da duna: ir em frente ou voltar para o acampamento. Uma tática simples para não dar espaço para confusão. Ficar perdido no deserto não é uma experiência que pretendo buscar.
O cume da duna é uma linha que está sempre em movimento. Esse fio delicado cria curvas que cativam minha imaginação e meus olhos fotográficos. Busco imagens inéditas nos ângulos, nas sombras e nas formas geradas pelo vento. Entendo porque o deserto é tão apaixonante.
As linhas criadas pelas dunas do deserto criam uma sinfonia de formas arredondadas.
Ao pôr do sol, a luz baixa cria um jogo de luzes e sombras nas dunas do deserto.
Olho para trás e vejo que meus passos rompem a castidade da crista da duna, deixando marcas toscas e pesadas. O respeito pelo lugar é tão espontâneo que chego a me perguntar se tenho direito de tirar a virgindade dessas linhas tão puras. Uma rajada de vento um pouco mais forte parece responder meu questionamento filosófico. Dois minutos depois, meu rastro indelével desaparece da superfície e a duna volta a seu estado de inocência.
O sol se põe criando tons pastéis excepcionais e é hora de regressar ao acampamento. Lá encontro o tradicional chá de menta, tão doce como refrescante. Ali e Barka também avisam que o jantar será servido em breve. Para começar, teremos uma salada de tomate e pepino, frutos da irrigação do deserto.
Como prato forte, comeremos cuscuz, comida típica da África do Norte que consiste em grânulos de semolina de trigo cozidos e embebidos em um molho de verduras. O grão de bico tem presença obrigatória. Como sobremesa, degustaremos tâmaras, o caramelo dos nômades.
A equipe líbia, comandada por Barka e Ali, começa a armar o acampamento e a preparar o jantar.
A primeira noite em um deserto pode ser assustadora para um habitante puramente urbano. A escuridão de um céu sem lua e o ruído constante de grãos de areia voando transformam o ambiente de puro contato com a natureza em uma experiência horripilante para um viajante desprevenido. O alemão que viaja conosco prefere o conforto de sua barraca e desaparece.
Depois do jantar, sinto a escuridão como um desafio adicional e parto a pé desvendar novas fronteiras. Caminho algumas centenas de metros e me deito na areia. Não há nenhuma luz, a não ser na abóboda celeste. Vejo um céu estrelado com milhões de pontos luminosos, como vários colares de infinitas pérolas. Gostaria de tocá-las.
Meus olhos se acostumam à escuridão e volto a caminhar. A luz do conjunto de estrelas é tão forte que agora posso ver as formas das dunas com mais nitidez, assim como o contorno das montanhas escuras contra o céu. Nunca vi uma Via Láctea tão rica e tão alegre! O Saara é um deserto de forças!
O tempo, o vento e a areia do deserto do Akakus esculpiram formas rochosas que desafiam a imaginação – e as emoções – do viajante.
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