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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
12 de janeiro de 2011 | N° 16578
PAULO SANT’ANA
A rotatória da Encol
Para quem não mora em Porto Alegre: existe aqui uma rotatória, na esquina da Avenida Nilo Peçanha com a Rua Carazinho.
Ali foi convencionada uma rotatória que funcionou durante anos, até ontem, quando se iniciaram as obras para substituí-la por sinaleiras.
Pela rotatória, no cruzamento, os veículos ou avançavam ou davam passagem para quem vinha pela transversal. Era uma questão de entendimento.
Pelas sinaleiras, não haverá mais entendimento, haverá submissão ao sinal vermelho e avanço no sinal verde.
Eu acho a rotatória mais democrática. Só não sei se era mais eficaz.
Democrática porque havia mais que o direito de ir e vir, consagrado na Constituição: havia o direito de ir e vir, respeitando-se ainda o direito de ir e vir dos outros. Ou talvez melhor: respeitava-se pela rotatória o direito de vez dos outros.
Na rotatória, quando era a minha vez, eu avançava. Mas parava quando era a vez dos outros: isso é por si só uma bela lição de democracia, a gente deve saber parar quando tem como obstáculo o direito dos outros. E a gente só pode avançar, como na vida, quando não há ninguém impedindo licitamente o nosso avanço.
A rotatória ali na Encol encerrava também uma forma de os motoristas se entenderem através do fluxo.
Já a sinaleira não admite entendimento. É pegar no verde ou largar no vermelho, as pessoas deixam de ter autorregulação do seu tráfego para se submeterem aos caprichos cronológicos das sinaleiras.
Se a prefeitura colocou sinaleiras no local, é porque o trânsito com a rotatória se mostrava insatisfatório. O que eu temo é que com as sinaleiras o tráfego passe a ser mais insatisfatório.
A rotatória é diferente da fila. Pela fila, as pessoas se alinham porque só há lugar para uma delas ser atendida. Mas na fila o atendimento é feito por terceiras pessoas, enquanto na rotatória o atendimento é feito pelo próprio cliente.
Este sistema de rotatória é tão curioso, que, por ele, se um motorista imprimir a velocidade de 90 quilômetros horários na mesma rotatória, ficará dando voltas no canteiro sem permitir que nenhum outro o faça, vindo de qualquer direção. A preferência será sempre dele.
O sistema de sinaleiras por vezes é injusto: é no instante em que, numa direção existem inúmeros veículos querendo passar e na direção transversal não há nenhum pretendendo isso, embora o verde a favoreça.
É solucionar isso o que se propõe exatamente a rotatória: quando houver superfluidade no fluxo de determinada direção, a rotatória privilegiará a direção transversa.
Estou curioso para saber qual será o resultado dessa mudança da prefeitura, que experimentou esses dias acabar com a interrupção do trânsito de carros cruzando a Avenida Protásio Alves, vindos da Ramiro Barcelos, e obteve excelentes resultados.
A engenharia de trânsito vive muito de experiências e estatísticas.
Mas fica a suspeita de que a rotatória é a mais brilhante invenção da engenharia de trânsito.
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