quarta-feira, 19 de janeiro de 2011



19 de janeiro de 2011 | N° 16585
MARTHA MEDEIROS


Homens bons

Houve uma época em que fazer uma tatuagem era um ato de rebeldia e despertava preconceitos. Mas isto foi no tempo da pureza e da desinformação, quando a gente não estava a par de outros motivos para se assustar.

Hoje sabemos que bandidos podem usar terno e gravata, que bandidas podem ser mães de bebês e que uma tatuagem não estigmatiza ninguém, é apenas uma forma de expressão, um recurso para não se deixar globalizar neste mundo onde todos se parecem e tudo é descartável.

Minhas duas filhas possuem tatuagem e não consta que sejam menos confiáveis do que jovens que mantêm a pele imaculada. Caso elas tivessem idade e preparo físico para ser salva-vidas, estou certa de que prestariam um serviço da melhor qualidade.

No entanto, elas têm idade e preparo físico para serem vítimas de afogamento, como qualquer um de nós. Eu não ficaria nem um pouco aborrecida se um voluntário com um dragão desenhado no bíceps as tirasse do mar a tempo de elas não constarem das estatísticas absurdas de fatalidades deste verão 2011.

Ao contrário: eu é que talvez elevasse o número de tatuados. Pelo menos a inicial desse super-herói eu levaria pra sempre no meu tornozelo direito.

Quando me perguntam o que a literatura me trouxe de bom, nunca esqueço de citar: a oportunidade de conhecer pessoas que antes eu admirava à distância. Lembro quando, adolescente, busquei o autógrafo do Scliar numa longínqua Feira do Livro de Porto Alegre, segurando um exemplar de O Exército de um Homem Só com as mãos trêmulas.

Até ali, Scliar era pra mim apenas um escritor famoso, o que não é pouco. Hoje, tendo tido a chance de dividir alguns breves momentos em sua companhia, sempre em circunstâncias ligadas à literatura, posso me sentir honrada não só por conhecê-lo, mas por testemunhar o ser humano generoso que ele é. Suas atitudes transcendem a sua obra.

Ele nunca poupa um elogio, um incentivo: chega a ser extremista em seu carinho. Participa ativamente de todos os eventos literários do país, desde os mais badalados até simples bate-papos em pequenas escolas distantes da Capital, levando sua experiência e sua doçura.

Tem uma disponibilidade rara e não se furta em repartir seu conhecimento, que é vasto. Já publicou mais de 70 livros e isso pode parecer produção suficiente, mas ser um exemplo de caráter é algo que o Brasil não pode se dar o luxo de perder. Volte logo, mestre.

Dia internacional do sofá. Aproveite a quarta-feira.

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