sexta-feira, 14 de janeiro de 2011


ELIANE CANTANHÊDE

O tsunami brasileiro

BRASÍLIA - O terremoto no Haiti confirmou que o que é ruim sempre pode piorar. O tsunami da Ásia devastou o litoral da Tailândia, matou milhares e chocou o mundo. O Katrina destruiu a comovente Nova Orleans e, agora mesmo, vários Estados norte-americanos enfrentam nevascas implacáveis. E as chuvas inundam rios e matam na moderna e asséptica Austrália.

Ok. Tragédias naturais não são exclusividade do Brasil nem mesmo de países pobres. Tragédias simplesmente ocorrem, em geral deixando um rastro de mortos, famílias dizimadas, casas destruídas, estradas interrompidas e, às vezes, gigantescas perdas econômicas.

Mas, cá para nós, o nível de devastação e o número de vítimas variam bastante de país para país, de acordo com o grau de desenvolvimento: compromisso dos governantes, uso adequado do dinheiro público, planejamento, prevenção e educação da população.

No Brasil, as tragédias são tragédias anunciadas e o resultado é sempre muito chocante. A de 2010 se repete em 2011 e vai se repetir em 2012, em 2013, em 2014... a não ser que o casamento eleição-Copa do Mundo consiga estancar e reverter a expectativa macabra.

Até lá, os experts estarão roucos de falar e nós estaremos cansados de ouvir que não existe gestão do uso do solo, a ocupação irresponsável das encostas é "regra, não exceção" (como diz Dilma), nenhum órgão federal, estadual ou municipal se ocupa efetivamente da prevenção, e a população não faz a sua parte. Como o salário não dá para viver decentemente, o jeito é viver perigosamente -enquanto der.

Dilma assinou de pronto a MP da emergência, acionou as Forças Armadas, sobrevoou a área serrana do do Rio, tomou providências. Foi rápida. Correu contra o tempo, com o número de mortos crescendo vertiginosamente, minuto a minuto.

Mas o Brasil tem de ser rápido antes das tragédias, para evitá-las, e não depois, para remediá-las.

elianec@uol.com.br

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