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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
10 de janeiro de 2011 | N° 16576
PAULO SANT’ANA
Cara de palhaço
A atitude de Assis Moreira com o Grêmio não pertence ao padrão humano.
A atitude dele contém um ódio que deve remontar ao tempo em que seu pai era zelador de carros no Estádio Olímpico.
O ato agora dúplice de Assis é intrigante, inexplicável sob o ponto de vista do comportamento normal e esperado dos humanos.
Assis ludibriou por duas vezes o Grêmio, engrupiu por duas vezes o Grêmio, fez o Grêmio, o presidente Odone e nós, os gremistas, de bobos e de palhaços, exatamente como no samba celebrizado pelo cantor Miltinho: “Cara de palhaço/ pinta de palhaço/ roupa de palhaço/ foi este o meu amargo fim/ cara de gaiato/ pinta de gaiato/ roupa de gaiato/ foi o que arranjei pra mim/ estavas roxa/ por um trouxa/ pra fazer cartaz/ na tua lista/ de golpista/ tem um bobo a mais/ quando a chanchada/ deu em nada/ eu até gostei. E a fantasia/ foi aquela que esperei./ Mas se ele quiser voltar/pra mim/ vai ser assim/ cara de palhaço/ pinta de palhaço/ roupa de palhaço/ até o fim...”.
Não é normal a atitude de Assis, porque agora ele não poderá mais pisar em Porto Alegre, tal a revolta popular causada pelo seu ludibrio.
Cá para nós, leitores, é normal a conduta de Assis? Não é mórbida? Exemplifico: se eu tirasse a Mega Sena da Virada, de que me adiantariam os R$ 194 milhões se eu não pudesse pisar em Porto Alegre, a minha terra natal?
Eu com esta fortuna toda seria mais infeliz que um mendigo embaixo da ponte.
É preciso que o Grêmio e os gremistas tenham agora a serenidade dos sábios que reiniciam suas vidas depois de uma tragédia.
O Grêmio não pode desanimar. A massa tricolor, aliada aos Vontobel, aos Gerdau, aos Grendene, todo o Grêmio de ricos e pobres, de negros e brancos, tem de tirar deste episódio lastimável forças para tornar o clube ainda maior do que já é e pretendia ser até a segunda negaça de Assis.
Sorte só dos leitores desta coluna que viram escrito aqui nos últimos dias que “Assis enganará o Grêmio pela segunda vez” e que “cachorro ovelheiro, só matando”.
Está certo: sou um pessimista. Mas eu tinha o cutuco de que o caráter de Assis não era torto só para uma edição. Ele faria isso com o Grêmio três vezes, 20 vezes, 1 milhão de vezes. Pau que nasce torto morre torto.
Quando o presidente Odone anunciou, sábado, o fim das negociações com Assis, eu estava no Litoral.
Vi pessoas amaldiçoando Assis aos gritos, em Capão Novo. Vi pessoas revoltadas até com baba de ódio a umedecer as palavras de impropério em Atlântida. Vi pessoas em um bar de Capão da Canoa gritar em coro: “Traidor, traidor”...
Uma revolta assustadora.
Desfrute Ronaldinho o Flamengo ou outro qualquer clube. Sejam felizes os irmãos Moreira, aproveitem sua fortuna ganha em cima da dor e do desconsolo dos gremistas.
E, quando um dia no futuro Assis e Ronaldinho se reunirem com seus filhos e netos, evitem por favor de pronunciar a palavra Grêmio.
Livrem pelo menos as crianças desta lembrança trágica.
Inédito na história do jornalismo esportivo: há três dias, David Coimbra deu em primeira mão a notícia de que Ronaldinho já era do Grêmio. Sábado, o mesmo David Coimbra foi quem deu a notícia, em primeira mão, de que Ronaldinho não vinha mais, definitivamente, para o Grêmio.
Uma martelada no cravo, outra na ferradura.
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