quarta-feira, 12 de março de 2008



12 de março de 2008
N° 15538 - Martha Medeiros


Bom humor

Em fevereiro, Paulo SantAna escreveu uma crônica falando das dificuldades que os mal-humorados sofrem no seu dia-a-dia e recomendou que as pessoas que padecem dessa maldição passem a sorrir mais, porque assim suas vidas automaticamente mudariam para melhor. Parece simplista, mas eu concordo com essa tese em gênero, número, grau, altura e largura.

Eu só acrescentaria que esse "sorrir" não significa sair por aí feito um bobalhão. O sorriso nem mesmo precisa ser aparente. Basta que a pessoa possua uma alegria interior e que a manifeste através das suas atitudes no dia-a-dia.

Ao ler a coluna, me vieram dois comediantes à cabeça. Não conheço nenhum dos dois pessoalmente, só sei deles o que a imprensa revela. Estou falando de Chico Anysio e Jô Soares, dois gênios.

Chico talvez seja até superior na criação de tipos, mas não vem ao caso. Ambos são absolutamente talentosos. Mas só um deles me parece bem-humorado.

Daqui de longe, apenas observando o que leio e ouço por aí, me parece que um continuou amigo de suas ex-mulheres, enquanto o outro parece ter cultivado uma mágoa relacionada a todo o seu passado. Um parece se divertir com o que faz, o outro parece estar cumprindo contrato.

Um se sente à vontade para experimentar coisas novas e se dedica a atividades diversas, o outro enjaulou-se e espera até hoje por um reconhecimento que julga não ter.

Um se sente agraciado pela vida, o outro sente que a vida ainda lhe deve honras. Um parece não ter preconceitos, o outro parece julgar todos que cruzam seu caminho.

Um tem um sorriso gaiato, o outro tem um sorriso contido. Tudo isso pode não corresponder ao que eles são de verdade, mas estou falando de imagem, de impressão causada. E é a impressão que tenho deles.

Essa percepção não merece ser desprezada. Você pode ter o mesmo talento que um colega seu, as mesmas condições para realizar-se, e no entanto a rabugice pode ser decisiva para que um deslanche e o outro fique pra trás.

Existe alguém que seja mal-humorado porque quer? Até tem, mas muitos simplesmente nasceram assim e fizeram do seu mau humor um traço de caráter.

Se quisessem, poderiam aliviar-se um pouco desse ranço, mas não se esforçam, não percebem o redemoinho em que vivem, a falta de horizonte, a limitação de seus atos. São pessoas bacanas e generosas, mas que, sem se darem conta, tornaram-se blindadas.

Falta-lhes inteligência emocional, uma habilidade que despertou o interesse científico há poucos anos, mas que já é considerada essencial para as relações interpessoais, a fim de que se evitem conflitos desnecessários.

É através dessa inteligência que um gordo pode parecer leve, enquanto um magro pode pesar tanto a ponto de não sair do lugar.

Hoje, Dia Internacional do sofá, aproveite para aqueles amassos e tenhamos todos uma excelente quarta-feira, ainda que com chuva por aqui.

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