quinta-feira, 27 de março de 2008



27 de março de 2008
N° 15553 - Luiz Pilla Vares


O imaginário infantil

Desde logo é preciso deixar claro que há muito tempo não tenho contato com crianças. Não sou psicólogo nem qualquer coisa parecida.

Mas fui criança, vivi intensamente o tempo mágico da fantasia e da imaginação e, depois de adulto, sempre lembrei da inocência, do rico universo que nos envolve naqueles anos de construção da personalidade e que nem sempre são lineares e felizes.

E é inegável que existe um imaginário da infância que assume formas diferentes conforme as épocas. Assim, a imaginação de uma criança, seus brinquedos, seus jogos e seus sonhos são diferentes na infância do século 19 daquela que surgirá durante o século 20, assim como meninos e meninas da segunda metade da centúria passada terão fantasias inteiramente distintas daquelas da garotada da geração anterior.

Minha experiência pessoal é certamente diversa da meninada de hoje. Meu tempo lúdico de criança foi formado por grandes inovações tecnológicas e formas novas de expressão: o rádio, por exemplo. Ali, seriados de Tarzan, Capitão Atlas, As Aventuras do Anjo, Jaguar O Detetive nos faziam sonhar e ocupavam nossas tardes.

Ansiávamos pelos fins de semana por causa das matinês de filmes de aventura, caubóis e os incríveis desenhos. Queríamos ser Durango Kid, Hopalong Cassidy, Zorro. Ou os filmes em série, principalmente Flash Gordon, Dick Tracy, Fantasma, Super-Homem, Batman, Capitão Marvel, todos saídos dos gibis.

E, obviamente, o futebol. Ir ao "estádio" era fantástico, e depois reproduzíamos as partidas em memoráveis clássicos de botão, quando imaginávamos arquibancadas lotadas. As meninas tinham as suas bonecas, as casinhas e todo um condicionamento para cumprirem seu papel futuro de donas de casa.

Agora parece que tudo mudou. As matinês não exercem mais atração: a televisão acabou com elas. Depois veio a revolução radical dos computadores, com suas incríveis e, para minha geração, inimagináveis possibilidades criativas e de jogos fascinantes. É claro que fica a inevitável pergunta: qual o tempo melhor do imaginário infantil?

Os dias atuais reduzem ou ampliam a imaginação da criançada? Não dá para responder, só os tempos futuros serão capazes de possibilitar uma afirmação.

E olhe lá! De qualquer forma, espero que o imenso e inesgotável mundo de sonhos reservado às meninas e aos meninos não tenha terminado, mesmo que os novos costumes tenham modificado comportamento e atitudes e, certamente, encurtado a época da inocência.

Harry Potter talvez seja uma saudável evidência de que as portas do sonho não foram fechadas. Não sei.

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