segunda-feira, 31 de março de 2008



31 de março de 2008
N° 15557 - Luis Fernando Verissimo


O Risadinha

Para saber com certeza a idade de alguém, faça um teste. Pergunte "Quem era o Risadinha?" Cantor e compositor paulista das décadas de 40 e 50, certo.

Mas havia outro. Quem era? Num filme de 1947 chamado Kiss of Death (em português, me informa o Google, O Denunciante), dirigido por Henry Hathaway, estreou no cinema o ator Richard Widmark.

Ele fazia um psicopata que divertia-se com suas maldades - como a de amarrar uma velhinha na sua cadeira de rodas e jogá-la escada abaixo - e dava uma risadinha para o lado.

O personagem foi um grande sucesso, tanto que até o fim da sua carreira, que incluiu papéis de herói, cientista, velho sábio e acho que até padre, Widmark nunca deixou de ser lembrado como o psicopata da risadinha para o lado.

Aqui, a gente o chamava de "Risadinha", não importava o tipo de personagem que interpretasse. Mesmo nos filmes em que seu papel era claramente de mocinho não conseguíamos nos livrar da impressão de que alguma o Risadinha iria aprontar, cedo ou tarde.

Widmark morreu há dias, com 93 anos, e todos os necrológios destacaram o estereótipo de psicopata que ele, por mais bonzinho que quisesse parecer, nunca conseguiu superar. A risadinha para o lado o perseguiu até a morte. A velhinha da cadeira de rodas se vingou.

Um paradoxo

Já se disse que é um equivoco, os ingleses não inventaram o futebol. Inventaram a bola levantada na área, e esperaram que outros inventassem o resto.

Mas há dias a televisão mostrou dois jogos do campeonato inglês, um depois do outro, Manchester United contra Liverpool e Chelsea contra Arsenal, que eu gravaria para mostrar a quem ainda não se convenceu que o futebol é o esporte mais bonito do mundo.

E que destruíam todas as críticas ao supostamente tosco futebol inglês. Mas dias depois viu-se um jogo da seleção inglesa contra a seleção francesa que parecia confirmar o pior que se diz dos ingleses.

Um paradoxo, até você se dar conta da quantidade de jogadores estrangeiros que deram o espetáculo nos dois jogos da "Premier League". E concluir - com a ressalva que Rooney e alguns outros brilhariam em qualquer lugar - que o melhor futebol do mundo, hoje, se joga na Inglaterra, mas não por ingleses.

Grande esperança

Pato é muito bom e tem não uma estrela guiando a sua sorte, mas uma constelação. Mas não sei se não está acontecendo o mesmo que houve nos Estados Unidos quando torciam tanto pelo aparecimento de um bom boxeador branco para desafiar os campeões negros que qualquer medíocre mais forte era saudado como grande esperança branca.

Não há nada de racista no entusiasmo por Pato, que é tudo menos medíocre, mas a vontade de que apareça um jovem fenômeno com a sua cara parece estar inflando os comentários.

O endeusamento será merecido, se ele continuar assim. No momento, só parece um pouco precoce.

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