segunda-feira, 31 de março de 2008



31 de março de 2008
N° 15557 - Kledir Ramil


Canhotos

Você já tentou segurar uma tesoura com a mão esquerda e cortar uma folha de papel? Faça isso. Depois, vá até a cozinha, pegue um abridor de latas e, com a mesma mão esquerda, tente abrir uma lata de leite condensado.

Essas pequenas experiências com utensílios domésticos podem dar uma noção da dificuldade que é para um canhoto viver num mundo feito para os destros.

Há alguns anos, quando o homem era ainda mais ignorante do que hoje, muitos julgavam que ser canhoto era uma doença. Professores batiam de régua nas mãos das crianças para fazê-las escrever com a mão "certa". Algumas desenvolveram uma capacidade incrível de manusear as coisas com as duas mãos, mas a maioria cresceu com traumas.

Ainda bem que certos pais não forçaram seus filhos a abandonar o uso da canhota, senão poderíamos ter sido privados da genialidade de Leonardo Da Vinci, Albert Einstein, Isaac Newton, Charles Chaplin, Machado de Assis, Mahatma Gandhi e Ayrton Senna. Isso, sem falar das deusas: Greta Garbo, Marilyn Monroe, Julia Roberts, Nicole Kidman, Angelina Jolie. O mundo seria outro.

Não sei por que razão as pessoas funcionam melhor de um lado do que do outro. E se formos comparar os dois grupos, o resultado é desproporcional: 90% usa o lado direito. Canhoto é minoria.

Em Nova York, há uma loja só para eles. Além de tesouras e abridores de lata, existem coisas que eu nem imaginava que faziam falta.

Teclado e mouse para computador, saca-rolhas, caderno espiral, régua, apontador, canivete. Há até relógios que giram no sentido anti-horário, que é o mais natural para quem não é destro.

Deve ser usado no pulso direito e o botão de acertar ponteiros é do outro lado. Tudo faz sentido. E é bom que faça. Se não tivessem inventado a guitarra para canhotos, não haveria Jimi Hendrix nem Paul McCartney, e a história do nosso tempo não seria a mesma.

Dizem que a mão inglesa - o trânsito no Reino Unido onde os carros se cruzam pelo lado "errado" - vem do tempo das batalhas medievais a cavalo, em que os cavaleiros se enfrentavam dessa forma, pois seguravam a lança com o braço direito.

Mas se alguém tivesse me contado que o cara que criou a mão inglesa era canhoto, eu teria acreditado. Até porque, para nós os destros, é muito complicado passar as marchas do carro com a mão esquerda.

Meu filho é canhoto da barriga pra baixo. Escreve com a mão direita e chuta com a perna esquerda. É um fenômeno que não tem explicação.

Talvez eu seja o responsável. No entusiasmo do processo de fabricação, posso ter enroscado além do normal a espiral de DNA do guri. Vai saber.

Ótima segunda-feira, aproveite o último dia de março de 2008 e uma excelente semana.

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