quarta-feira, 26 de março de 2008


artigo - Ruth de Aquino - Época num. 0514

E quando os traídos forem os maridos?

Ainda neste século, o mundo talvez veja um homem no papel de Silda Spitzer, a loura e elegante advogada americana de 50 anos casada com Eliot e mãe de suas três filhas.

Como se sabe, Eliot, de 48 anos, era governador de Nova York até que a imprensa denunciou suas transas com prostitutas de luxo. Nada de novo na vida de políticos com poder e dinheiro. Brasília é testemunha.

Como cada vez mais mulheres assumirão o poder, não é impossível que um marido de presidente, governadora ou primeira-ministra se encontre no palco, em pé, no momento delicado da confissão pública feminina.

Coisas da política, ou do amor. Algumas presidentes são vistosas e atraentes. Uma é a argentina Cristina Kirchner, com todo o respeito ao marido e ex-presidente Néstor.

Por ter se exposto ao lado do marido infiel, há quem veja Silda como uma santa que se imolou pela família. Ou esposa submissa e interesseira. Não vejo nada disso.

Silda parece inteligente. Formada em Harvard, deixou o emprego de advogada para se dedicar às filhas Elyssa, de 17 anos, Sarabeth, de 15, e Jeena, de 13, fundou uma organização filantrópica e abraçou a luta ambientalista.

Ela não se esconderia agora como vítima. Eliot era defensor implacável da moral e, só por isso, caiu ao ser flagrado em tentação morena. Quem fez muitas caretas em público foi o calvo Eliot, pedindo desculpas a Silda. Colunistas enxergaram no olhar dela reprovação, raiva, ódio, vergonha. Se Silda fosse tão expressiva sem falar nada, seria candidata ao Oscar.

Ninguém sabe nada da vida íntima de um casal. Ignoramos como Silda e Eliot se comportam como marido e mulher após 21 anos de casamento. Ela sabia das escapadas do governador e consentia? Será que algum dia Silda traiu Eliot, e ele soube?

Pode ser que tenham um casamento aberto e ela o culpe apenas por não ter sido discreto o suficiente. Silda queria que o marido lutasse para continuar governador, mesmo após o escândalo. Talvez vivessem uma crise, e ela já o tivesse perdoado.

Neste século, uma mulher poderosa ainda poderá estar no papel do governador de Nova York que confessou adultério

O novo governador de Nova York, David Paterson, antes que o investiguem, já confessou ter traído a mulher durante quase três anos. Michelle, sua mulher, também admitiu que teve um amante.

Não pretendo fazer apologia da traição. Mas casos como o de Nova York provocam surtos de hipocrisia. Foram lembradas com comiseração as mulheres de políticos infiéis.

A mais famosa ainda é Hillary Clinton. Ela não só apoiou o presidente Bill em 1998, mas brigou por sua versão mentirosa: “Não tive relações sexuais com essa moça, miss Lewinsky”.

Depois, Hillary foi vencida pelo vestido da estagiária com sêmen presidencial e pelo charuto libertino de Bill. Publicou uma biografia, ganhou milhões de dólares e se lançou na disputa pela Presidência.

No Brasil, Verônica Calheiros assistiu ao discurso do marido, o senador alagoano Renan, que desfiou uma fábula patética sobre “a gestante, o lobista e a criança”.

Ela o abraçou no Congresso, posou para fotos em close e depois declarou que “homem é mesmo muito besta para cair nessa”. Hoje, diz-se que Verônica faz tratamento de fertilidade para ter uma filha com o marido, porque seus filhos são homens, e “a outra” tem uma menina.

Há casais monogâmicos pela vida inteira. São raros. Maridos que traem, políticos ou não, são um fenômeno muito antigo. Mulheres que traem, políticas ou não, estão se tornando um fenômeno cada vez mais comum.

Também já são uma realidade as versões masculinas de Kirsten, a prostituta de 22 anos que derrubou o governador.

Noutro dia, em São Paulo, uma psicanalista bem-nascida e rica me confidenciou que suas amigas tinham lhe passado cartões de esculturais garotos de programa, promessa de sexo seguro, anônimo e eficaz. Os tempos são outros.

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