quarta-feira, 19 de março de 2008



19 de março de 2008
N° 15545 - Paulo Sant'ana


Um páreo de três mulheres

Escrevi nesta coluna na semana passada que o pré-candidato do PT nas prévias para prefeito que mais reagisse à realização do debate pela televisão seria o perdedor.

Acertei na mosca. Embora Miguel Rossetto vá declarar que queria o debate, todos os observadores políticos constataram que a mais destacada má vontade com o debate partia das hostes de Miguel Rossetto.

Rossetto até que podia querer o debate das prévias pela televisão, mas visivelmente a cúpula do grupo que o apoiava tinha mais medo do debate que o diabo da cruz.

Menos porque achavam que poderiam perder a discussão no debate do que por entenderem que a discussão pública da campanha iria fraturar o partido em Porto Alegre.

Então ficou visível que Maria do Rosário queria mais o debate pela televisão - que afinal não saiu - do que Rossetto.

E se tinham a perder os integrantes da facção de Rossetto com o debate pela televisão - ou pelo menos eles achavam que o partido perderia com a exposição das fraturas - , do outro lado, Maria do Rosário nada tinha a perder.

Pelo contrário, como era uma candidata quase que livre atiradora, contestadora do establishment, só tinha a ganhar com o debate público coordenado pelos meios de comunicação.

E se esse cálculo não passou pela cabeça dos eleitores da prévia, decidindo uma eleição, com vantagem de apenas 56 votos de um para outro candidato, então ninguém entende mais nada.

Miguel Rossetto, portanto, inquestionavelmente, pagou tributo e foi derrotado por seus aliados terem se negado peremptoriamente a transigir pela existência de um debate pela televisão.

Este colunista atuou sensorialmente neste aspecto das prévias e parece que acertou em cheio.

Maria do Rosário, às vésperas da realização das prévias, ficou muito chocada com uma coluna que escrevi afirmando que Miguel Rossetto não tinha sido leniente com o mensalão.

Maria do Rosário me procurou, queixando-se de meu juízo, que, segundo ela, a tinha atingido.

Disse a ela que não sou covarde nem canalha. Por isso afirmei-lhe que fiz aquela coluna para dizer aos meus leitores que, sob o aspecto da leniência com o mensalão, Rossetto era candidato mais confiável do que ela.

Como aliás disso a acusavam os partidários de Rossetto, uma dia antes de mim.

Isso tudo, antes da realização da prévia.

Maria do Rosário, com uma simpatia e uma compreensão impressionantes, me disse que respeitava a liberdade de imprensa, mas se fosse derrotada nas prévias iria declarar à imprensa que a causa de seu fracasso tinha sido aquela minha coluna. Isso antes de me dizer num desabafo dramático que estava perdida e poderia até retirar sua candidatura.

Logo em seguida, recomposta do abalo, deixou claro que iria concorrer mas não muito claro se iria ou não atribuir sua derrota a esta coluna, caso perdesse a prévia.

Maria do Rosário ganhou a prévia. Na garra, no entusiasmo, contra tudo e contra todos, pelo menos aqui no Estado. Foi pequena a margem da vitória, mas foi heróico o seu feito.

Esta jovem esposa dos olhos claros cor do dia se atira agora a uma campanha de prefeito em que tem chances de eleição.

Seu arzinho angelical, sua cara inspiradora de confiança, vão render-lhe muitos votos.

Mas Manuela DÁvila e Luciana Genro têm encantos similares.

Será uma campanha acirrada e uma eleição de difícil prognóstico.

As mulheres, em Porto Alegre, já têm garantida uma candidata mulher no segundo turno. E podem até vir a ter duas mulheres no segundo turno.

Isso é significativo para o avanço das mulheres na política.

Se a isso se somar que a candidata do PT a sucessora de Lula será Dilma Rousseff, é definitivo que no Rio Grande as mulheres estão por superar em breve tempo os homens na política.

Deus guarde a nós, homens, desse terremoto!

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