terça-feira, 18 de março de 2008



18 de março de 2008
N° 15544 - Paulo Sant'ana


Diferenças e semelhanças

A diferença entre o hipocondríaco e o paranóico é que o último tem medo de qualquer coisa, menos de doença. E o primeiro só tem medo de doença.

É preciso ter muito tino para distinguir certas semelhanças ou diferenças entre o hipocondríaco e o paranóico. Por exemplo, uma pessoa que tenha medo mórbido de ser atendida pelo SUS caso venha a adoecer não é hipocondríaca, é paranóica.

Da mesma forma, a pessoa que tem medo de morrer se apanhar câncer não é hipocondríaca, é paranóica.

Hipocondríaca é a pessoa que, embora tenha medo de um dia se envolver em um acidente de trânsito, tem certeza de que, se isso acontecer, terá dois dos quatro membros dilacerados pelo choque.

Essas fronteiras tênues entre as doenças mentais não são muito fáceis de serem distinguidas.

Depressão, por exemplo, nada tem a ver com tristeza. Um dos exemplos da grande diferença que as separa é que alguém que esteja triste pode ir a um bar e conversar com os amigos, como programa, para tentar alegrar-se. Quem está depressivo jamais irá ao bar com os amigos, mete-se debaixo das cobertas e não quer comunicar-se com ninguém e com nada.

O triste tenta alegrar-se. O deprimido, se o prazer algum dia vier bater à sua porta, como diz Augusto dos Anjos, ele fará saber "a esse monstro que fugi de casa".

E a diferença principal entre o esquizofrênico e o sociopata estuprador é que o primeiro ouve vozes e o segundo "grava" vozes e a toda hora ouve a gravação.

A chamada CPI do Detran já terá alcançado o seu êxtase existencial se solver o mistério de como, por exemplo, uma carteira de motorista custa R$ 600 em Brasília, segundo mandou dizer de lá ontem a Ana Amélia Lemos - e aqui muito mais.

Qual é o enigma desse disparate, se o código de trânsito que rege Brasília é o mesmo que rege o RS?

A CPI do Detran tem de desmanchar este feudo de gastança pretensamente legítima e a corrupção descarada, baixando o preço das carteiras para um nível aceitavelmente humano e não selvagem.

A ponta do iceberg da corrupção no Detran era e é o preço das carteiras.

Cheguei às lágrimas quando o apresentador Paulo Ledur transmitiu ontem no programa Gaúcha Hoje o seguinte recado de uma ouvinte de Viamão, referindo-se aos dias longos em que não tenho participado, de férias, naquele espaço: "Volta, SantAna, volta. Sem ti a gente fica desamparada".

E o Daniel Scola, outro dia, bateu também com dezenas de mensagens que pediam a minha volta imediata das férias, insufladas pelo Túlio Milman, que vociferava no microfone: "Volta, SantAna!".

Esvoaça pela minha mente um verso de uma linda canção que não tenho certeza se existe: "Aconteceu um novo amor/ que não podia acontecer".

Este verso cuja existência é incerta mas me persegue há vários dias é um paradoxo gritante.

Porque sempre a gente diz que não devia acontecer uma despedida ou uma separação. Mas o provável autor desse verso afirma que não devia acontecer um novo amor; isto é, uma coisa boa.

É como se uma pessoa ficasse triste por estar com boa saúde.

Estes poetas têm cada uma!

Que eleição para prefeito em Porto Alegre, no outubro: Maria do Rosário contra Manuela DÁvila e Luciana Genro.

Entre les trois mon coeur balance.

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