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sábado, 15 de março de 2008
16 de março de 2008
N° 15542 - Moacyr Scliar
Os amantes da Madonna
Madonna, aparentemente, não envelhece. É como se o desejo que ela desperta funcionasse como um elixir da eterna juventude
Em 1997, publiquei pela Editora Mercado Aberto um livro de contos chamado O Amante da Madonna. A história que dá título ao volume é um diálogo de café da manhã entre um carpinteiro e sua mulher, com quem ele quer, evidentemente, comprar uma briga.
Começa perguntando se ela sabe quem é Madonna. Sim, ela sabe. "Me surpreende", diz ele. "Porque em geral você não sabe nada. Você é burra, mulher. Você não lê jornal, não ouve rádio, nem tevê assiste.
Mas já que ela conhece a Madonna, ele faz uma hipótese: a Madonna vem à cidade deles, a Madonna faz um show e lá está ele, o carpinteiro, assistindo ao show daquele tesão de mulher.
De repente, sempre segundo a imaginação dele, o cenário começa a desabar. O empresário da Madonna surge no palco e grita: "Um carpinteiro, pelo amor de Deus! Um carpinteiro para arrumar o cenário!"
Ele sobe ao palco e, em cinco minutos, arruma o cenário (mesmo que a mulher, segundo o suspeitoso raciocínio dele, considere isso impossível). Chega o clímax: "E aí a Madonna me olha e, num instante, ela está apaixonada por aquele cara musculoso, simpático.
Me convida para ir ao camarim dela depois do show. Eu vou, ela se atira nos meus braços, e nos tornamos amantes". O anticlímax: "Mas é claro que você acha isto impossível, mulher. Para você, eu nunca poderia ser amante da Madonna.
Para você, eu não passo de um pobretão, de um fracassado. Com uma mulher como você, eu nunca poderei subir na vida. Nunca poderei ser amante da Madonna". Tome o seu café, diz ela, já é tarde, tenho mais o que fazer.
Madonna tinha 39 anos quando escrevi esse conto. Agora já tem 50. E continua sendo um símbolo sexual, como Marilyn Monroe, com quem ela, aliás, é parecida. Madonna, aparentemente, não envelhece.
É como se o desejo que ela desperta em todo o mundo funcionasse como um elixir da eterna juventude. O número de fãs-clubes da Madonna é imenso, inclusive no Brasil. Exemplo é o Madonna Insane Fan Club, que se intitula o maior fã-clube da América Latina. Notem este "insane", muito apropriado.
Trata-se de uma veneração quase religiosa (nesse sentido o nome Madonna condiciona um destino) que Madonna reforça: prova disso foi sua atração pela Cabala, aquela forma de misticismo-esoterismo judaico que ela começou a praticar em 1997 e que lhe serviu de inspiração, inclusive, para histórias infantis.
A pergunta é: quanto tempo ela vai continuar cabalista? Porque, no mundo do showbiz, essas adesões, assim como os casamentos, muitas vezes são fugazes.
Não sei se Madonna leu o conto. Mas acho muito significativo que ela tenha composto uma canção intitulada Id Rather Be Your Lover, cuja letra diz: "Eu poderia ser sua irmã/ eu poderia ser sua mãe/ eu poderia ser sua amiga/ mas eu prefiro ser sua amante, é isso aí/ eu prefiro ser sua amante".
Uma canção que deve incendiar imaginações pelo mundo inteiro, independentemente de idade. E que deve provocar muito ciúme a um obscuro e fictício carpinteiro, cujo supremo sonho é, claro, ser o amante da Madonna.
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