terça-feira, 18 de março de 2008


ELIANE CANTANHÊDE

Sem fronteiras

WASHINGTON - A principal acusação contra a Venezuela e o Equador, por parte tanto dos EUA como da Colômbia, é que os dois países seriam coniventes, ou até mais do que isso, ao permitirem a presença de guerrilheiros em suas fronteiras. Isso seria uma espécie de "refúgio", haveria "cumplicidade".

Pois bem. Ontem, o secretário-assistente de Estado para a região, Thomas Shannon, me disse algo de muito bom senso: se ninguém consegue controlar suas fronteiras, aliás, como os próprios EUA, como exigir que o Equador consiga?

"É dificílimo controlar fronteiras enormes como as da região. Nós mesmos, nos EUA, não temos todos esses problemas nas nossas fronteiras com o México, apesar de todos os esforços?", disse ele, numa brecha na reunião de chanceleres da OEA (Organização dos Estados Americanos), em Washington.

Se Shannon que é Shannon reconhece isso, como crucificar o Equador porque guerrilheiros atravessam suas fronteiras e se comportam em solo equatoriano como se estivessem em casa? Seria mais produtivo ter, em vez de acusações mútuas, soluções conjuntas.

As Farc são uma questão interna da Colômbia, porque nasceram, cresceram e se multiplicaram dentro do país.

Mas elas ganharam dimensão regional e precisam de uma solução discutida regionalmente. Dizimar todos os guerrilheiros é a não-solução, algo que qualquer organização internacional, país e cidadão tem a obrigação de rechaçar prontamente. Ou melhor: previamente. Ninguém quer um Iraque na América do Sul.

O chanceler Celso Amorim foi de uma ousadia rara em diplomatas ao admitir publicamente (à Folha) que o presidente Álvaro Uribe -inegavelmente forte, diante das Farc cada vez mais fracas- deveria pensar numa "solução negociada, até numa anistia negociada". Uma declaração poderosa, dessas que muitos pensam, mas ninguém fala.

elianec@uol.com.br

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