Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 27 de março de 2008
27 de março de 2008
N° 15553 - Luis Fernando Verissimo
Pesos e medidas
"Dois pesos e duas medidas!" é a frase comumente usada para contestar um julgamento com critérios diferentes e injustiça flagrante para um dos lados. Como as leis, os pesos e as medidas devem ser iguais para todos.
Como as leis, eles raramente são. Não que exista quilograma de pobre e quilograma de rico, ou que o metro varie de comprimento de acordo com a conveniência de quem mede. Mas é notório que certas coisas pesam mais e têm outra dimensão contra alguns do que contra outros.
Eu até acho que essas diferenças deveriam ser padronizadas e se estabelecesse uma tabela de pesos e medidas para parte da população e outra tabela para outra parte.
Em vez de ficarmos nessa eterna cobrança de justiça social, oportunidades iguais para todos etc., no pressuposto de que todos estão sujeitos às mesmas normas, a começar pelas do sistema métrico, estaria claro que só determinado setor da sociedade teria direito à medição integral. Aos outros caberia uma espécie de sistema submétrico variável.
Assim a frase "dois pesos e duas medidas!" deixaria de ser uma expressão de inconformidade com o tratamento desigual dado a coisas iguais - como a dos que se queixam de que as nebulosidades do governo anterior não mereceram metade da atenção que a imprensa dá às atuais, por exemplo - e seria apenas a aceitação de uma realidade brasileira.
Oficializando-se dois sistemas separados se estaria assegurando a paz social e facilitando a compreensão da nossa história. E, afinal, só sacramentando o que já existe.
Aos tímidos
Como um tímido veterano, posso dar alguns conselhos aos que estão recém descobrindo o martírio de enfrentar este terror, os outros, e a obrigação de se fazer ouvir, ter amigos, namorar, procriar e, enfim, viver, quando o que preferia era ficar quieto em casa. Ou, de preferência, no útero. Para começar, algumas coisas que não funcionam.
Tentei todas e não deram certo. Decorar frase, por exemplo. Já fui com uma frase pronta para impressionar a menina e na hora saiu "Teus marilus verdes são como dois olhos, lagoa". Também resista à tentação de assumir um ar superior e dar a impressão de que você não é tímido, é misterioso.
Eu sou do tempo em que a gente usava chaveiro com correntinha (além de tope e topete, tope de gravata enorme e topete duro de Gumex) e ficava girando a correntinha no dedo enquanto examinava as garotas na saída das matinés (eu sou do tempo das saídas de matinés).
Um dia deu certo, a garota veio falar comigo, ou ver de perto o que mantinha o topete em pé, foi atingida pela hélice da correntinha e saiu furiosa.
Melhor, porque eu não tinha nenhuma fala pronta, o que dirá misteriosa, que correspondesse à pose. Evite manobras calhordas, como identificar alguém tão tímido quanto você no grupo, e quando, por sacanagem, lhe pedirem um discurso, passar a palavra para ele. O mínimo que um tímido espera de outro é solidariedade.
E não há momento mais temido na vida de um tímido do que quando lhe passam a palavra. Tente se convencer de que você não é o alvo de todos os olhares e de todas as expectativas de vexame quando entra em qualquer recinto.
Porque no fundo, a timidez é uma forma extrema de vaidade, pois é a certeza de que, onde o tímido estiver, ele é o centro das atenções, o que torna quase inevitável que errará a cadeira e sentará no chão, ou no colo da anfitriã. Convença-se, o mundo não está só esperando para ver qual é a próxima que você vai aprontar. E mire-se no meu exemplo.
Depois que aposentei a correntinha e (suspiro) perdi o topete, namorei, procriei, fiz amigos, vivi e hoje até faço palestras, ou coisas parecidas. Mesmo com o secreto e permanente desejo, é verdade, de não estar ali, estar quieto em casa.
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