terça-feira, 25 de março de 2008



25 de março de 2008
N° 15551 - Paulo Sant'ana


A tricotomia

Deu para ver ontem no programa Polêmica, da Rádio Gaúcha, apresentado pelo Lauro Quadros, que o debate aprofundado das idéias e das circunstâncias políticas se concentrará mais entre Luciana Genro e Maria do Rosário.

A candidata do PC do B, Manuela DÁvila, se deterá mais na idealização da conduta política e buscará maior eficiência na campanha pelo contato pessoal, explorando mais seu magnetismo e simpatia junto ao eleitor.

Nisso ela é quase imbatível, tem um jeito de criança-moça, uma inocência que cativa os interlocutores. Se se aprofundar pelos bares e pelas fábricas da cidade, é candidata certa para figurar no segundo turno.

Já Luciana Genro é um galo de rinha. O combate pela dialética e pelo discurso agressivo é tom peculiar e familiar no comportamento dela. Ela não sobrevive sem um atrito.

Dar-se-á esse conflito entre Luciana e Maria do Rosário com mais freqüência na campanha. Porque Luciana não esquece que foi expulsa do Partido dos Trabalhadores, não escondendo seu quase rancor e as diferenças com essa sigla, tanto que votou contra a reforma da Previdência do governo Lula. Ora, o PT que é exorcizado por Luciana Genro é o partido de Maria do Rosário.

Fatalmente, Luciana Genro enxergará na figura de Maria do Rosário o emblema do PT que ela amaldiçoa. E será inevitável o choque entre as duas.

Nesse ponto dos debates e das entrevistas jornalísticas, Manuela ficará olhando de longe a fricção entre suas duas colegas, não se desgastando. Ela é simpática o suficiente para não perder terreno por omitir-se. A briga não sendo com ela, por que irá meter-se na encrenca?

Maria do Rosário, espertíssima, já deu para ver ontem, tentará se aproveitar das realizações do governo Lula.

Luciana Genro não terá, pois, outro recurso senão explorar os escândalos do mensalão e dos cartões corporativos.

Dirá, em todas as esquinas, em todas as entrevistas, em todos os debates, que o dinheiro do contribuinte, além de ser desviado por corrupção ou gastança para os bolsos privados, deixa de ser aplicado em educação, saúde, segurança etc., o que torna os cidadãos reféns permanentes da falta contumaz de austeridade, enveredando a nação para a perdição orçamentária e moral.

Maria do Rosário, já flagrada sendo leniente com o mensalão, vai tentar mudar de assunto, batendo sempre na tecla da aprovação popular ao presidente Lula depois de seis anos de mandato, o que atesta um governo de amplas e profundas relações.

Pode ser que eu esteja enganado, mas enquanto Luciana Genro e Maria do Rosário se atracarão em lutas partidárias e ideológicas, Manuela DÁvila vai explorar seu carisma nas vilas da cidade, nos arrabaldes da Capital.

Maria do Rosário e Luciana Genro também são campeãs de votos nos bolsões mais populares da cidade, mas agora encontrarão nesse campo uma rival respeitável, capaz de batê-las naquela luta de corpo-a-corpo, de contato pessoal, de apertos de mãos, Manuela DÁvila.

Por isso é que esse combate será memorável no primeiro turno.

Mas também por um detalhe principal será política e ideologicamente instigante a campanha: as três são esquerdistas.

E aí é que pergunto: haverá tanto voto esquerdista na cidade para sustentar as três?

Fogaça, com elas se dividindo, não será o grande lucrador dessa tricotomia?

Muitas mulheres importantes numa eleição, paradoxalmente, podem vir a favorecer Fogaça. Não deixem de refletir sobre isso.

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