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segunda-feira, 24 de março de 2008
24 de março de 2008
N° 15550 - Luiz Antonio de Assis Brasil
Palavras (28)
Perdas - Mariana Alcoforado, portuguesa de Beja, ao perder seu amor, levado embora pela guerra, pelo desconsolo, pela perfídia, pela mesquinhez, pelo medo e covardia - ou simples acaso - , decidiu que sua perda seria sua maior conquista.
Seu amor era um oficial do exército francês, e bastante frívolo. Dela não ficou nenhum retrato; dele, há um homem de peruca barroca, ornado por fitas e condecorações. Leva uma espada ao flanco. Os saltos de suas botas são vermelhos: ele pertence à melhor nobreza.
A vida de Mariana Alcoforado só ganhou plena existência depois dessa perda. Antes, era uma simples mulher que amava, e isso a fazia igual a todas que amaram os oficiais franceses em serviço no país.
Todas eram abandonadas, mas enquanto choravam lágrimas, Mariana Alcoforado escolhia palavras. Escreveu a seu amado cinco cartas de ódio e paixão.
Embaralhou as palavras com tanta sabedoria que se encantou com sua capacidade de escrever. Sua correspondência com o Cavalheiro de Chamilly hoje é estudada pelos eruditos universitários e pelos amantes.
Abandonada, Mariana Alcoforado rejuvenesceu; sua mente brilhou, tal como a fome desperta a inteligência. Assim, pela via da literatura, Mariana Alcoforado assegurou seu lugar na memória dos homens.
Se porventura seu amado voltasse de joelhos e arrependido, Mariana Alcoforado, ela que lhe escrevera "estou resolvida a adorar-te por toda a vida", dar-lhe-ia as costas e lhe enviaria uma carta: "Perde-te de mim, deixa-me feliz em minha desgraça".
E retornaria silenciosamente à sua cela de religiosa na clausura do Convento de Nossa Senhora da Conceição, onde vivia desde os 11 anos.
Perder o tempo - As pessoas dizem que perdem o tempo justamente quando o ganham para suas reflexões, para seu entendimento do mundo, para contemplação de um lençol pendurado no varal quando o vento o excita. Ninguém perde o tempo que julgou perdido.
Nele, com seu inesperado acontecer, estamos dispostos a tudo, desde pensar um sistema filosófico até descobrir a melhor maneira de atar os cordões dos calçados.
Perder a vida - "Par délicatesse / jai perdu ma vie", escreveu Rimbaud em Chanson de la Plus Haute Tour.
Ele, um mestre da delicadeza, consagrou a metade final de sua vida à rude aventura do Oriente. Foi capataz de uma pedreira em Chipre. Traficou armas. Dedicou-se, na Etiópia, a um comércio escuso de peles e de café. Sentiu o calor africano. Suou, manchou sua camisa.
Fez-se fotografar numa pose deliberadamente brutal, cercado pela selva. Veste-se de branco. O branco está com nódoas de suor. Seu olhar é ameaçador.
Na foto ele parece um bandoleiro.
Se ele, como escreveu, por delicadeza perdera sua vida, só assim a reencontrava.
Essa deliberada sordidez foi necessária para que se considerasse, enfim, um ser humano.
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