Superando o cotidiano com estoicismo
Diário Estoico - 366 Lições sobre sabedoria, perseverança e a arte de viver (Intrínseca, 496 pág, R$ 59,90) de Ryan Holiday, celebrado pensador-autor dos best-sellers O ego é seu inimigo, A vida dos estoicos e A quietude é a chave, foi escrito com o auxílio de Stephen Hanselman, editor e livreiro formado em Harvard, e apresenta uma rica seleção de citações do estoicismo que serve como guia para o autoconhecimento e a superação das dificuldades do cotidiano.
Baseada na prática, a filosofia estoica há séculos conquistou adeptos célebres, como Eugène Delacroix e Adam Smith e hoje auxilia a jogadores da NBA, financistas de Wall Street, mega empresários do Vale do Silício e público em geral a viver e buscar realizações. O estoicismo lida com a natureza imprevisível da vida cotidiana e traz ferramentas úteis para enfrentá-la.
A obra traz 366 citações de grandes pensadores como Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio, entre outros, e os autores acrescentaram reflexões e exemplos práticos da vida moderna. A ideia foi tornar os ensinamentos acessíveis para iniciados e não iniciados no estoicismo, em uma abordagem interativa.
O livro tem três grandes partes (a disciplina da percepção, a disciplina da ação e a disciplina da vontade), cada uma delas englobando quatro meses e tratando de temas como mortalidade, autoconsciência, resolução de problemas, resiliência, aceitação, clareza mental, pensamento imparcial e dever.
Não por acaso o antigo estoicismo, testado empiricamente ao longo dos séculos, permanece vivo e importante e tornou-se de certo modo imprescindível para atravessar as complexidades de nosso mundo contemporâneo. O bom caminho para a felicidade, o encontro do real propósito na vida e como lidar com as emoções e superar perdas estão contemplados na obra.
Nas páginas finais do volume, é apresentado um útil glossário de termos e passagens essenciais, trazendo várias explicações elucidativas sobre termos-chave da filosofia estoica, além de sugestões para leituras adicionais.
Lançamentos
- Anotações em Shakespeare (Confraria do Vento, 100 pág, R$ 47,00) do psicanalista, professor, escritor e tradutor Luiz-Olynto Telles da Silva, trata, com erudição e profundidade, dos amores, ódios e peculiaridades dos seres humanos presentes com brilho na obra imortal de Shakespeare, que desafia o tempo e os leitores.
- O essencial de Robert Nozick (Avis Rara- Faro, 80 pág, R$ 29,90), do professor Aeon J. Skoble, traz as principais ideias de um dos grandes pensadores liberais do século XX. Nozick lecionou em Harvard e escreveu Anarquia, Estado e Utopia, premiado com o National Book Award de 1975.
- Um parêntesis sobre distâncias (Class, 114 pág, R$ 44,00) quarto livro da poeta Michelle C. Buss, com grandes e candentes poemas, fala de vida, morte, amor, misticismo, lucidez e filosofia. "O vento rasga as árvores lá fora/ canta canções de fúria e rebeldia/enquanto o céu histérico chora", versos da autora.
Está complicado ser cidadão
Pensando bem, desde que o mundo é mundo, criado por Deus ou pelo big bang (e isto você decide, que não vou polemizar), na maior parte do tempo e na maior parte dos lugares terrenos, não tem sido fácil ser cidadão e sobreviver com certa dignidade no planeta. Desde a trabalhosa caça aos javalis para comer no almoço até o entendimento dessas complicadas traquitanas tecnológicas e os por vezes insondáveis mistérios do mundo digital, a coisa nunca foi muito mansa. Mas, assim como as baratas, sobrevivemos, e estamos aí, no terceiro milênio, buscando soluções melhores para os conflitos do corpo, da alma e do necessário convívio com os semelhantes, que geralmente não são muito semelhantes e quase sempre são piores do que a gente.
Se você fala muito e se fala meio alto, vão te chamar de caturrita de hospício ou de detefon, que tonteia. Se não falas, te chamam de isentão, alienado ou louco de pedra. Se falas o que o interlocutor gostaria de ouvir, aí és sábio e iluminado. Se dizes o que o outro não quer ouvir ou não concorda, é porque és um idiota. "Democracia é eu mandar em você. Ditadura é você mandar em mim", escreveu o Millôr Fernandes, em verbete do Millôr Definitivo - A Bíblia do Caos. É, escrever é tentar colocar ordem no caos. O mundo está mais para quadro surrealista de Dali do que para teorema matemático.
Se tu és de esquerda, vão dizer que tuas teorias não deram certo na prática, que todas as "narrativas" utópicas nas academias e nas mídias, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, e agora nas redes sociais , são fajutas. Se tu és de direita, vão dizer que és antigo, ultrapassado, de outro milênio. Se falas que és conservador e a favor dos valores clássicos, aí vão dizer que és elitista, que estás no século XVIII e que tuas roupas e tuas conversas estão empoeiradas.
Se te dizes anarquista, pós-moderno e a favor do vale-tudo para todo mundo, aí vão te rotular de inimigo da ordem e da paz, do convívio legal e civilizado e vão dizer que deves ir para o bairro Christiania, Cidade Livre, em Copenhagen, na Dinamarca, curtir a liberdade extrema e fumar sossegadamente um baseado.
Se te manifestas a favor do "centro", ou te consideras um radical de centro, aí vão dizer que proclamas, como disse, brincando, o Barão de Itararé: "Haja o que houver, aconteça o que acontecer, estarei sempre ao lado do vencedor".
Se és a favor da livre iniciativa, do capitalismo que existe hoje até na China e concordas com a humana acumulação, é porque és individualista e não pensas nos outros. Se és a favor da divisão marxista de tudo, te chamarão de utópico, de sonhador quixotesco e dirão o que disse Margaret Thatcher: "O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros".
Se procuras um ponto de equilíbrio, uma harmonia entre tudo, um "algodão entre os cristais" e dizes que "a verdade está sempre no meio", aí dizem que és um água morna, um concordino, e que as pessoas têm de ter posições individuais, firmes, fortes e lutar por elas. Não é fácil, nunca foi.
A propósito...
Ainda bem que estou chegando ao fim deste meu espaço, que esta conversa está ficando complicada e não sei bem como encerrá-la. Para não dizer que não falo de flores e de soluções harmoniosas, esperançosas e felizes para os humanos e para o mundo, fico lembrando o Canadá, o Japão, a Nova Zelândia, Aruba, a Austrália e os países nórdicos, por exemplo, e aí observo as conquistas e os avanços. Claro que por lá existem problemas individuais e sociais. Perfeição não existe em lugar nenhum e nem vai existir. Existe eterna procura, idas e vindas, palavras e silêncios, perdas e ganhos, vidas e mortes e esse mundo velho sem porteira, com o sol sempre despontando pelas manhãs e a lua, que deveria ser só dos namorados, sempre iluminando as escuridões nas noites.
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