28 DE FEVEREIRO DE 2022
+ ECONOMIA
Swift, uma bomba atômica nas finanças
Enfim, a União Europeia propôs a remoção de "um certo número de bancos russos" do Swift, sistema internacional de transações financeiras. Quase ao mesmo tempo, a Casa Branca divulgou nota anunciando "medidas restritivas que impedirão o Banco Central da Rússia de utilizar as suas reservas internacionais". Como a coluna mostrou, a Rússia havia quase duplicado suas reservas cambiais e triplicado a compra de ouro desde 2015, logo depois da invasão e anexação da Crimeia.
Na época, a saída do Swift, considerada a "arma nuclear" das sanções econômicas, chegou a ser discutida. O então primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, avisou que equivaleria a uma "declaração de guerra". O ministro das Finanças de 2014, Alexei Kudrin, estimou que causaria queda de 5% no PIB.
Esse sistema, é bom lembrar, não executa pagamentos, mas é considerado uma "internet dos bancos". Sem o Swift, seria preciso usar e-mail ou fax, o que levaria mais tempo e embutiria mais riscos.
Segundo Mauro Rochlin, professor de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), o Switf interliga os bancos que operam transferências transnacionais.
- Se um banco ou um país inteiro não participa, fica impedido de participar do sistema bancário internacional. Não tem como receber ou fazer transferências de recursos, o que na prática significa que fica impedido de negociar.
O que existe até agora é uma declaração de intenções: a presidente da Comissão Europeia (cargo equivalente ao de primeira-ministra ou presidente de um país), Ursula von der Leyen, anunciou uma "proposta", que ainda precisa ser aprovada. Mas se basta apertar o botão do Swift para desligar os bancos russos, por que houve tanta hesitação?
Como toda "arma nuclear", a retirada de bancos russos do Swift pode espalhar radiação no comércio global e mesmo no sistema de pagamentos internacionais. E atinge tanto as empresas russas quanto seus clientes estrangeiros, especialmente importadores de petróleo e gás, mas também trigo e milho.
- Em um mundo globalizado, as fronteiras financeiras também são tênues. Quanto uma ação de um país pode impactar outros e eximi-lo desse efeito? É difícil imaginar que algum fique isento dos malefícios e só sujeito aos benefícios - pondera Rochlin.
Não por acaso, a Alemanha, que terá "grandes repercussões" com a medida, foi o último a ser convencido da necessidade de retirar a Rússia do Swift. Antes de avaliar as consequências, será preciso conhecer o "certo número de bancos".
JAMES BELLINI CEO da Marcopolo
Embora a Marcopolo tenha registrado lucro líquido de R$ 358,4 milhões em 2021, o CEO da empresa, James Bellini, não esconde: é efeito de "eventos extraordinários". E, com a mesma sinceridade que fala das dificuldades, antecipa boas notícias: depois de reduzir o quadro de pessoal em cerca de 30% nos dois anos de pandemia, a Marcopolo voltou a contratar e vai manter uma tradição: trabalhar no Carnaval, porque tem muitos pedidos de ônibus para atender.
Como está a empresa?
Em processo de retomada. O último trimestre de 2021 foi de recuperação. Conseguimos virar um resultado que estava muito negativo e trouxemos para o break even (equilíbrio). O lucro no ano foi devido a efeitos não recorrentes. Conseguimos recuperar impostos, o que foi muito bom, impactou positivamente.
Foi o que permitiu registrar lucro de R$ 358,4 milhões?
Sim, mas esse valor poderia ter sido consumido por um resultado operacional ruim. Com ações para ajustar a empresa ao tamanho atual do mercado, conseguimos buscar o zero a zero. Considero essa uma grande vitória do time.Vamos fazer uma boa distribuição de dividendos, que significa renda para os acionistas. Os pedidos estão entrando, só ainda não deu tempo para vender e renovar todo o processo produtivo, porque enxugamos muito a empresa. O processo de ramp up (subida de nível) traz certa dificuldade para aumentar a produção.
Como foi o enxugamento?
Era inevitável. Em toda a pandemia, reduzimos uns 30%. Tínhamos 10 mil funcionários no Brasil e 4 mil nas operações no Exterior. Hoje, temos perto de 10 mil no total, cerca de 7,5 mil no Brasil e 2,5 mil lá fora. Mas voltamos a contratar, à medida que o mercado retoma. Vemos aumento proporcional na entrada de pedidos. A carteira está muito maior do que nos últimos dois anos. Ainda não chegamos aos níveis de 2018 e 2019, também por conta da Ômicron. Temos muitas negociações em andamento, mostrando tendência bem positiva. Estamos esperando um ano muito bom, tanto que já estamos contratando.
Existe previsão do número de contratações projetadas?
Já está ocorrendo, mas ainda há muitas variáveis externas incontroláveis. Aprendemos a trabalhar com isso na pandemia. A principal lição foi não dar o passo maior do que a a perna. Cautela é palavra de ordem aqui.
Houve problemas com matérias-primas, como o aço?
Foi um grande desafio. Nosso cliente já estava impactado financeiramente pela pandemia, era difícil ainda ter de absorver aumento de inflação. O aço subiu 140% desde o começo da pandemia. O alumínio, mais de 100%. Agora, o patamar de preços já está mais realista. Os semicondutores seguem impactando, não apenas a nós, mas indústrias de chassis, como Mercedes, Scania, Volvo. A produção de janeiro foi menor do que poderia ter sido por isso.
A Marcopolo teme instabilidades no período eleitoral?
Independentemente de quem esteja no governo, trabalhamos da mesma maneira. A Marcopolo precisa do governo, porque se trata de transporte público. Somos apartidários, não temos nenhum tipo de preferência. Convivemos bem com todos os governos, do PT, do centro, da extrema direita.
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