sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022


25 DE FEVEREIRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

AGRESSÃO INJUSTIFICÁVEL

Merece veemente condenação a invasão militar da Rússia à Ucrânia. Trata-se de um ato de agressão indefensável. Fere o direito internacional em prerrogativas como a autodeterminação de uma nação e sua integridade territorial, além de ameaçar tragar o mundo para um período de tensões poucas vezes visto desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Ao violar o acordo de Minsk, que tentou colocar fim às hostilidades na região em 2014, o autocrata russo Vladimir Putin produz, a partir do conflito com epicentro no Leste Europeu, um momento sombrio que pode ter implicações seriíssimas.

As consequências incluem a perda injustificável de vidas humanas, já ontem na casa das dezenas, uma crise humanitária pela possibilidade de criar-se uma nova onda de refugiados, a desestabilização de relações internacionais e reflexos econômicos ainda difíceis de projetar, mas que tendem a alimentar a inflação global e afetar a recuperação após o auge da pandemia. Seja qual for a magnitude das repercussões, é certo, como mostra a História, que gerarão mais sofrimento.

Apesar do ato drástico do Kremlin, ainda é preciso ter esperanças de que será possível voltar à mesa de negociações e, por meio da diplomacia, solucionar impasses e garantir um cessar-fogo definitivo. Esta posição foi, inclusive, manifestada pelo Itamaraty ontem, que em nota pediu "a suspensão imediata das hostilidades" e o retorno ao diálogo para que se encontre uma solução pacífica. O tom tenta ser coerente com a tradição da Casa de Rio Branco e do histórico de equilíbrio e neutralidade do país, mas faltou, é preciso ressaltar, uma condenação mais dura da atitude da Rússia. Uma postura mais adequada à gravidade da questão expressou o vice-presidente Hamilton Mourão, ao reprovar a ofensiva de Putin.

Pode se estar diante de um cenário de reconfiguração geopolítica em que líderes autoritários estão testando a capacidade de reação das democracias liberais. O Brasil, portanto, precisa estar atento às suas responsabilidades e fazer prevalecer posições de Estado compromissadas com o mundo livre, sem deixar o país ficar preso a eventuais simpatias pessoais.

Líderes democráticos e instâncias internacionais, agora, encaram o desafio de calibrar as respostas à invasão para dissuadir Putin. Até o momento, no entanto, mostram-se insuficientes. Por enquanto, limitam-se a sanções econômicas, embora exista certa preocupação de evitar que as medidas que tentam penalizar a Rússia levem também a sérias sequelas para o crescimento mundial. Ao mesmo tempo, reforça-se o posicionamento de tropas nos países vizinhos que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar que a Ucrânia deseja integrar, o que gerou a crise. Nesta frente, em que os EUA igualmente são o principal ator, também é necessário modular movimentos, para que se evite um conflito que envolva mais nações e se torne ainda mais explosivo para a humanidade.

Mas espera-se, sobretudo, que os governos e órgãos multilaterais consigam reatar interlocuções produtivas que convirjam para a conciliação. É preciso persistir na busca pelo restabelecimento da estabilidade, a partir dos princípios da Carta das Nações Unidas, guiada pelo compromisso de busca pela paz. 

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