sábado, 26 de fevereiro de 2022


26 DE FEVEREIRO DE 2022
MONJA COEN

SÁBADO SEM CARNAVAL

Seria hoje um dia de cantos e danças, festas, baladas, namoros, ir e vir, ficar, brigar, derrapar, beber e brincar. Isso tudo na época em que o Carnaval de rua era permitido, na época em que o Carnaval era esperado, quer fosse para fazer barulho, quer fosse para descansar.

Mas a pandemia sinistra chegou e infectou corpos e mentes. A alegria ficou proibida. O medo foi instalado. O Carnaval, adiado.

Há muitos anos, escolho os finais de semana alongados do Carnaval para ficar em silêncio e meditar. Procurar dentro e fora a capacidade de entender a mim e ao mundo, reconhecer paisagens e personagens e mergulhar no mais íntimo encontro com o todo. Onde nada falta e nada excede há uma doce ternura macia e suave a nos esperar. Todos podemos ir a esse não-lugar.

Um retiro Zen significa penetrar o coração, penetrar a essência, penetrar a mente. Perceber a equidade - diferente de igualdade. Não somos iguais, mas todos temos o mesmo valor, a mesma importância, somos a mesma vida e merecemos o mesmo respeito e a mesma dignidade.

Começamos a nos sentar e a silenciar na sexta-feira e nos levantamos e conversamos novamente a partir da Quarta-Feira de Cinzas. Pois, embora não haja neste ano, oficialmente, a festança do Carnaval, haverá a quarta-feira.

Cinzenta quarta, depois de apagada a fogueira, só restaria a cinza fria. A cinza não volta a ser lenha diretamente, mas indiretamente tudo está se transformando. Sem voltar para trás, sem retorno, mas num ir eterno, sem nunca chegar, sem ponto final, sem início e sem fim.

A cinza se espalha sobre a terra e ajuda a fertilidade do solo - como as lavas dos vulcões. Da pequenina semente aí cultivada, poderá surgir uma árvore grande e forte, da qual, nas tempestades, alguns galhos se partam e caiam à sua volta.

Alguém encontra o galho partido e coloca com outros galhos, como fazem os povos indígenas. Com eles acendem uma fogueira para aquecer os corpos, para cozinhar os alimentos, para cantar e dançar, beber, comer, fumar, rir e brincar, chorar, talvez, relembrar e orar, agradecer e compartilhar o fogo sagrado.

A cinza da quarta-feira virou festa, virou vida. Ficou quente lá adiante, na nova árvore nascida. Não voltou, mas foi adiante. Sempre indo, indo e quando chega percebe que continua sempre indo, numa jornada heroica. Como a Terra a girar com todo o sistema solar, numa elipse ascendente.

A palavra dita, o gesto feito e a atitude tomada nunca poderão ser apagados, excluídos, cancelados, exterminados. Deixam rastros e pegadas, cicatrizes, marcas.

O arrependimento, o reconhecimento de nossas falhas, faltas e erros, minimiza as consequências, mas nunca apaga a ação, a palavra e o pensamento. Podemos escolher como pensar? Definitivamente sim.

Não desenvolva pensamentos perversos, nefastos, de aniquilação e vingança. Pense o bem, veja qualidades mesmo em quem aparentemente não as tem. Não é fingir nem mentir. É perceber que luz e sombra são um par, como o pé da frente e o pé de trás ao andar.

Além do apego e da aversão está a pessoa sábia, capaz de ler os sinais do Caminho. Leia a realidade. Veja o que é. Nada se esconde. Tudo transparentemente se revela se você entender os sinais dos tempos e temporais, dos dias de sol e das noites de luar.

Aprecie sua vida. Reclame menos e faça mais. Ainda dá tempo. Desperte e se junte à luz deste amanhecer sagrado. É sábado - sem Carnaval - um bom dia para orar, meditar, agradecer e celebrar a vida.

Mãos em prece

MONJA COEN

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