sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022


10 DE FEVEREIRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

LIMITES ULTRAPASSADOS

A internet e as redes sociais possibilitaram a qualquer pessoa, com um simples aparelho celular na mão, manifestar uma opinião que pode ser amplificada e chegar a centenas, milhares ou até milhões de indivíduos. Em um segundo momento, permitiram o surgimento novos produtores de conteúdo e influenciadores que buscaram nas plataformas a rentabilização da audiência ao expor ideias, interpretar fatos ou conduzir entrevistas ou bate-papos com convidados. Até aí, se permanece no terreno de uma saudável democratização da comunicação proporcionada pela tecnologia e protegida pelo direito constitucional da liberdade de expressão.

A armadilha, no entanto, está no julgamento equivocado de que a liberdade de expressão é irrestrita. Não é e, no caso do Brasil, os limites legais são claros e conhecidos. Comportamentos ignóbeis como apologia ao nazismo e racismo sãos crimes tipificados. Mesmo relativizações merecem pronta e dura condenação moral e devidas providências das autoridades. É o caso do episódio que envolveu o youtuber a podcaster Bruno Aiub, conhecido como Monark, com a defesa abominável da possibilidade de um partido nazista ser legalizado no Brasil e de alguém se arvorar ao direito de ser "antijudeu". Não se trata de tema controverso, mas de delito.

Sempre é preciso lembrar, para que nunca caia no esquecimento, que o nazismo parte da presunção de uma suposta supremacia racial que seria a justificativa para exterminar outros seres humanos - simplesmente por serem judeus, ciganos, homossexuais ou portadores de deficiência física ou mental. Defender a possibilidade de se manifestar esta opinião, portanto, significa considerar razoável professar uma ideologia que prega a eliminação física de outras pessoas. Mais do que uma ideia abstrata, recorde-se, foi uma visão doentia colocada em prática ao longo da Segunda Guerra Mundial por Adolf Hitler e seus seguidores com o Holocausto, uma das maiores atrocidades da história da humanidade, com o assassinato em massa de cerca de seis milhões de judeus.

O Brasil e o mundo atravessam um período de perigosa polarização. As ideias extremistas encontraram na terra muitas vezes sem lei da internet, redes sociais e plataformas terreno fecundo para angariar mais adeptos. Neste turbilhão de radicalismos, torna-se ainda mais temerário abordar temas sensíveis e complexos de maneira rasa. Autodenominados produtores de conteúdo e apresentadores com carisma e eloquência, mas despreparados, sem embasamento e formação, infectados por concepções liberticidas - e não liberais - podem infelizmente se tornar vetores da disseminação para imensas audiências de princípios não apenas distorcidos, mas criminosos. A reação da sociedade e autoridades, portanto, tem de ser célere e firme, para ser fechada rapidamente qualquer brecha que possibilite a normalização de teses odiosas. 

Nenhum comentário: