22 DE FEVEREIRO DE 2022
NÍLSON SOUZA
A rua encantada
O Centro Histórico de Porto Alegre é formado por mais de 70 ruas e nenhuma delas tem nome de mulher. Posso estar enganado, mas pesquisei no site da prefeitura e só encontrei generais, coronéis, políticos e profissionais liberais, todos homens, como se as damas desta terra não tivessem feito parte da nossa história.
O mais próximo que encontrei de uma homenagem feminina foi a Rua da Conceição, referência mais à igreja do que propriamente à padroeira. De qualquer forma, o percentual de gênero (mínimo de 30% e máximo de 70% por sexo) recomendado pela Lei Complementar 220, que disciplina a denominação de logradouros em Porto Alegre, está longe de ser observado na área central.
Dentro de uma semana estaremos em março, mês da mulher e também dos 250 anos da capital gaúcha. Talvez seja o momento oportuno para uma reparação histórica por parte das autoridades municipais. Não desconheço que a nomeação oficial de um logradouro público envolve burocracia: cabe à Câmara de Vereadores propor em lei e ao prefeito sancionar, mas qualquer cidadão pode sugerir nomes para espaços e equipamentos públicos.
Suponho que todas as ruas, travessas e avenidas do Centro já estejam devidamente batizadas, mas lanço aqui um desafio para nossos representantes políticos: que tal inaugurar uma placa com o nome de uma gaúcha nativa ou adotiva? É desafio mesmo, pois mudar uma denominação por aqui, como todos sabemos, equivale a uma declaração de guerra.
Mas me parece inquestionável que as mulheres merecem melhor representação na geografia central da cidade. Candidatas não faltam: se pensarmos em perdas relativamente recentes, já que a legislação veda denominações de pessoas vivas, temos a escritora Lya Luft, a empreendedora cultural Eva Sopher e a cantora Berenice Azambuja, entre outras. Embora não sejam porto-alegrenses de nascimento, muito contribuíram para a promoção da Capital.
Há outras menos famosas e igualmente valorosas que também poderiam ser homenageadas no bairro mais importante da cidade. Até para justificar a poesia de Mario Quintana que imortalizou o seu traçado: "Há tanta moça bonita/ nas ruas que não andei./ (E há uma rua encantada/ que nem em sonhos sonhei...)"
Quem sabe um nome feminino para essa rua?
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