18 DE FEVEREIRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS
O ALERTA DOS EVENTOS EXTREMOS
A tragédia de Petrópolis (RJ), onde a chuva causou enxurradas, deslizamentos e desabamentos que vitimaram mais de cem pessoas, apenas confirma o alerta reiterado dos cientistas nos últimos anos: eventos climáticos extremos tendem a ser cada vez mais frequentes, como reflexo do aquecimento global. A catástrofe no município serrano do Rio de Janeiro pode ter sido potencializada pela topografia, mas situações semelhantes, com mortes e perdas materiais, ocorreram desde dezembro na Bahia, em Minas Gerais e em São Paulo. De forma concomitante, ondas de calor históricas e estiagens devastadoras castigam outras regiões do Brasil, como o Rio Grande do Sul, com prejuízos bilionários. Em alguns pontos, falta até água para o consumo humano.
Se há consenso de que episódios do gênero serão mais constantes, ficar de braços cruzados deixou de ser uma opção. É obrigatório planejar e executar políticas e ações que possam evitar ou minimizar novas calamidades no futuro. Em relação às secas, aprofundam-se no Estado discussões que buscam viabilizar o aumento na área irrigada. Mas não é a única solução. Junto, é preciso trabalhar pela adoção de outras práticas conservacionistas de proteção de mananciais e de manejo que permitam manutenção da umidade do solo, ao lado de um esforço robusto de construção de cisternas e perfuração de poços artesianos para amenizar os danos de períodos de déficit hídrico. Algumas destas iniciativas estão em curso.
Enchentes, enxurradas e desmoronamentos, especialmente em áreas urbanas, necessitam de outro tipo de enfrentamento, em múltiplas frentes. Um dos grandes problemas, sem dúvida, é a falta de opção de moradias para famílias carentes, que acabam ocupando áreas de risco, como encostas de morros ou beiras de córregos - canalizados ou não - e de rios. São quase sempre a maioria das vítimas fatais e as que perdem o pouco que têm.
A solução, portanto, deveria ser enfrentada com uma política habitacional voltada à remoção dessas famílias para zonas seguras e dotadas de infraestrutura. A manutenção ou a recuperação da vegetação ciliar e dos morros, por diminuir as chances de transbordamento e deslizamentos, é uma estratégia complementar e eficaz. É indispensável ainda aperfeiçoar sistemas de monitoramento meteorológico e de alerta para, em último caso, avisar a tempo e permitir a evacuação de locais que tendem a receber grande volume de precipitação em pouco tempo. O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), por exemplo, cobre apenas cerca de mil municípios dos mais de 5 mil existentes no país. Mas, criado em 2011 a partir de outra tragédia na serra fluminense, tem desempenhado importante papel de prevenção de consequências mais graves causadas por fenômenos naturais. É preciso, no entanto, ampliar a sua cobertura.
O mundo assiste atônito a surtos de secas inclementes, incêndios florestais, altíssimas temperaturas, vendavais, furacões, tempestades, nevascas e inundações de violência pouco comum. Os alarmes da ciência soaram. Apontam para uma maior periodicidade desses eventos no planeta febril. Há, felizmente, compreensão do quadro crítico e a busca por um empenho coordenado das nações para a diminuição da emissão de gases causadores de efeito estufa. Junto à gradual descarbonização e à proteção da natureza, com efeitos diluídos ao longo do tempo, é urgente reconhecer as vulnerabilidades e agir preventivamente para evitar o máximo possível grandes prejuízos materiais e, sobretudo, a perda irreparável de vidas.
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