19 DE FEVEREIRO DE 2022
BRUNA LOMBARDI
ABISMO E ASAS
Uma amiga me ligou desesperada dizendo que não conseguia dormir direito e sentia uma crise de ansiedade por não saber o que vai acontecer.
Estamos todos confusos e perplexos diante de uma realidade que muda a cada dia, num misto de falta de perspectiva e de esperança, e a tentativa de compreender que caminho seguir num mundo que parecia de um jeito e foi ficando de outro? Mas pensando bem, alguma vez na vida a gente soube o que ia acontecer? Não, claro que não.
Mesmo com todas as previsões e expectativas, com nossos sonhos e desejos, o futuro sempre foi desconhecido pra nós. Sempre será. Isso não mudou. Vivemos sempre apenas o momento presente, e sabe Deus o que vai acontecer amanhã.
A vida é tecida de incertezas. A única certeza que temos diante de nós é que vamos lidar com o desconhecido. Temos que aprender a nos adaptar e não deixar que cada instante nos coloque num estado de suspensão.
Quando estamos em suspenso, é como se a gente prendesse a respiração. Tudo paralisa e a gente não consegue agir.
Perdemos a fé, nos deixamos invadir pela dúvida, e o medo nos domina. E é assim que a gente se desconecta de nós mesmos e perde o fio da esperança.
A vida é aquilo que passa enquanto a gente faz planos, dizia John Lennon. A vida não tem rascunho, não tem ensaio, cada minuto é uma estreia, dizia Bernard Shaw. Aconteça o que acontecer, seguimos fazendo planos, inventamos novos desejos e possibilidades. Fazemos orações, renovamos promessas e sonhos?
E a vida continua nos surpreendendo com o inesperado e acontecendo do jeito que ela quer.
A gente muda o que pode mudar e aprende a aceitar o que está fora do nosso poder. Precisamos abraçar o mistério, a surpresa de cada virada, cada movimento, sem deixar que os vendavais de visões negativas nos arrastar e derrubem.
Tem um poema meu que diz: "Você pode me empurrar pro precipício
Não me importo com isso ? eu adoro voar"
No meu livro Clímax, tem uma poesia que começa assim: "Crio asas no abismo e sobrevoo devagar e distraída?". E tem também uma frase no meu livro Jogo da Felicidade: "Se tirarem seu chão, invente asas".
Esse tema foi sempre presente, a ideia de reagir, resistir, de criar asas à beira do abismo me acompanha desde sempre.
Aconteça o que acontecer, por mais impossível que pareça, sempre se acha uma saída. Seja por instinto, intuição, lógica ou razão, seja por um milagre, a gente sempre acha uma solução.
Carrego a certeza que mesmo quando nos sentimos ilhados, sozinhos, isolados, abandonados, mesmo quando parece que não há horizonte no céu escuro, nós vamos achar um caminho. Porque sempre existe um caminho.
Sou uma incorrigível otimista, e pensar positivo me dá coragem. Perguntei para minha amiga em quantas beiras de abismo ela já pisou. Um monte, ela me disse. Pois é, e estamos aqui.
Na hora, sempre aparece coragem ou sorte, sei lá. Mas sem coragem, a sorte passa por nós e não a vemos.
Na hora, sempre aparecem asas que a gente nem sabia que tinha.
Abismos existem para que a gente aprenda a sobrevoar.
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