09 DE FEVEREIRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS
ESFORÇO PELA ALFABETIZAÇÃO
As repercussões trágicas da pandemia na educação ficam aos poucos mais palpáveis, conforme são conduzidos e publicados novos estudos e levantamentos sobre o tema. Conhecer a magnitude do impacto do fechamento prolongado das escolas e das diferenças de possibilidade de acesso a aulas no formato virtual é um ponto de partida. Com o problema evidenciado por números e outros indicadores avaliativos, é possível fazer intervenções mais precisas para contornar as principais dificuldades apresentadas.
Nota técnica divulgada ontem pelo Todos Pela Educação escancara os sérios prejuízos causados à alfabetização das crianças brasileiras. A partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), concluiu que, entre 2019 e 2021, aumentou em 66% a quantidade de meninos e meninas de seis e sete anos que não sabem ler e escrever. Eram 1,43 milhão e passaram a ser 2,39 milhões, aponta o trabalho, baseado nas respostas dos responsáveis pelas crianças no levantamento periódico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A alfabetização, como base do processo de assimilação de conhecimento ao longo da vida escolar, é um momento decisivo para a qualidade da aprendizagem. Não consiste apenas na capacidade de ler um texto ou de escrever algumas palavras, mas de compreensão e de desenvolvimento de ideias e de novas habilidades. É um pilar, portanto, para a cidadania e para melhores possibilidades de inserção no mercado de trabalho ao chegarem à idade adulta.
É ainda mais preocupante, embora não surpreendente, a constatação do Todos pela Educação de que o quadro se acentua de acordo com a classe social das famílias e a cor da pele. Um exemplo: em 2019, um terço das crianças pertencentes ao recorte dos domicílios 25% mais pobres não sabiam ler ou escrever. Ano passado, o percentual pulou para 51%. Entre as 25% mais ricas, a piora foi bem mais modesta, de 11,4% para 16,6%, e ainda se nota uma melhora ante os dados de 2020 (17,4%). É mais um indício a apontar que o afastamento da escola teve consequências mais drásticas especialmente para alunos da rede pública, sem as mesmas condições de acesso a internet de qualidade e a dispositivos adequados para as aulas online em comparação com os estudantes de escolas privadas, que também retornaram bem antes às atividades presenciais.
As conclusões do levantamento reforçam a necessidade de um esforço conjunto e urgente voltado a recuperar o atraso na alfabetização dos pequenos brasileiros. Esse mutirão, por óbvio, tem de dar atenção especialíssima às escolas públicas, sob pena de, no futuro, se acentuar ainda mais a já vergonhosa desigualdade social do país, que se traduz em perda de potencial de crescimento econômico. É uma tarefa conjunta a ser executada pelo poder público, educadores, organizações da sociedade civil e comunidades escolares. São milhões de crianças que, em uma idade crítica de suas vidas, não podem ser deixadas para trás.
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