MAURICIO
STYCER
Teatro da
fidelidade
Por
razões misteriosas há algo que magnetiza o público neste programa
"trash", que tem boa audiência no canal
Depois
de terminar 2012 em sexto lugar no ranking de audiência em São Paulo, atrás da
TV Cultura, a RedeTV! recorreu a um velho conhecido para tentar tirá-la do
buraco. João Kléber ganhou logo dois programas e, hoje, onipresente, ocupa a
grade da emissora sete dias por semana --de segunda a sexta, pela manhã, e aos
sábados e domingos, à noite.
A
rigor, as histórias de João Kléber e da RedeTV! não podem ser escritas
separadamente. Esta é a segunda vez que o comediante trabalha para Amilcare
Dallevo e Marcelo de Carvalho. Na primeira, acompanhou a emissora desde os
primórdios, em 1999, até 14 de novembro de 2005.
Neste
dia histórico, o sinal da RedeTV! foi cortado por 24 horas, em consequência do
descumprimento de uma ordem judicial que obrigava a emissora a exibir um
programa educativo no lugar de uma atração então comandada por João Kléber,
acusada de discriminação contra homossexuais.
Depois
dessa, João Kléber se "exilou" em Portugal, onde continuou a fazer
sucesso com as suas pegadinhas, em especial o "Teste de Fidelidade".
Caso algum leitor desconheça, trata-se de um quadro no qual homens
comprometidos são submetidos ao assédio de mulheres contratadas pela produção
do programa, em situações simuladas, para ver se resistem à sedução. Às vezes a
situação se inverte, e mulheres passam pelo teste.
A
brincadeira se completa no palco do programa. Primeiro, a mulher que
"encomendou" o teste vê imagens gravadas com câmeras
"escondidas" e, na sequência, confronta o companheiro, sempre aos
gritos, querendo agredi-lo. João Kléber fica no meio, ajudado por um
"segurança" que mede 1,60 m, tentando "controlar" a
situação.
Quem
assiste a 15 minutos de um "teste" pode considerar já ter assistido a
todos. É sempre igual. Mas por razões misteriosas há algo que magnetiza o
público neste programa "trash", hoje responsável pelas melhores audiências
da RedeTV!.
No
meio da confusão, João Kléber recorre a velhos truques ("para, para,
para!!!", ou "você tem certeza que quer continuar vendo?"), que
deveriam irritar, mas que acabam divertindo. As frases exibidas na tela
dramatizam a situação num crescendo, elevando o grau de exposição do casal ao
ridículo.
Um
dos segredos, creio, vem do fato de que boa parte do público sabe que o
"Teste de Fidelidade", na verdade, é um "Teatro da
Fidelidade". Na fronteira da farsa, para muita gente o programa representa
o que os americanos chamam de "guilty pleasure", algo que proporciona
prazer a despeito de ser considerado ruim.
Em
2011, João Kléber participou do reality "A Fazenda", da Record. Lá,
tentou mostrar uma faceta pouco conhecida, de sujeito boa-praça, mas não deu
certo. Foi um dos primeiros eliminados, votado pelo público.
Em
entrevista ao UOL, pouco tempo depois, o comediante desabafou: "Sempre me
acusam de promover baixaria na televisão, porém, no instante em que entro em um
programa e demonstro quem sou realmente, um sujeito gentil, sincero e amoroso,
me colocam para fora. Ou seja, o público reclama, mas gosta mesmo é de ver o
circo pegar fogo". O sucesso do "Teste de Fidelidade" mostra que
ele tem razão.
mauriciostycer@uol.com.br
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