Rogério
Gentile
A casa da mamãe Dilma
SÃO
PAULO - Eduardo Campos está há sete meses na estrada, desde que acabou a
campanha municipal, insinuando-se pelo país como candidato a presidente. Posa
de dissidente, com críticas aqui e ali a Dilma, mas não larga o osso, mantendo
os apadrinhados do seu partido (PSB) no governo federal.
Sua
independência em relação ao governo lembra à de um jovem quarentão que hesita
em sair da casa dos pais. Tem vontade de morar sozinho, mas adia a decisão por
não querer ficar sem a vitamina de banana que a mamãe faz no café da manhã.
A
eventual candidatura de Campos é boa para o país na medida em que pode se
tornar uma alternativa à velha polarização entre PT e PSDB (Marina Silva também
poderá representar esse papel, mas enfrenta dificuldades para formar seu
partido). Seria melhor, no entanto, se não soasse tanto como um projeto
oportunista.
Campos
está hoje, ao mesmo tempo, na oposição e no governo e já deixou claro que
pretende manter essa "dupla personalidade" até abril de 2014, quando
deve tomar uma decisão com base, sobretudo, nas pesquisas e nas alianças que
terá conseguido articular nos Estados até lá.
Se
entender que tem chance de obter um bom desempenho na eleição, Campos deixará a
base governista, ampliará os ataques a Dilma e vai para o palanque dizendo que
dará o prosseguimento que ela não conseguiu dar à obra de Lula. Caso contrário,
recolherá sua artilharia, alegando que fez apenas críticas pontuais e
construtivas ao governo, e vai negociar um novo lote no provável quarto mandato
do PT.
Dilma,
por sua vez, não tirou até agora o PSB do seu governo porque também trabalha
com a calculadora política, ainda que isso signifique levar umas bordoadas de
vez em quando do governador de Pernambuco. Imagina que, lá na frente, o partido
de Campos acabará concluindo que é melhor continuar na casa da mamãe a se
arriscar a ficar sem ter onde morar depois da eleição.
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