Jaime
Cimenti
Dia das Mães, dia da nonna
Dia
das mães. Poderia homenagear, com toda a justiça, minha mãe, minha esposa que
me deu duas filhas lindas, poderia homenagear a Virgem Maria, mãe de todos nós,
ou Madre Teresa de Calcutá, que teve milhões de filhos do coração.
Poderia
homenagear as mães de filhos doentes, desaparecidos políticos, presos e as que
estão a milhares de distância de seus rebentos. Em nome de todas, vou lembrar
um pouco de minha avó materna, Marcolina, que todo mundo sempre chamou de Ida. Exemplo
de mãe e mulher, viveu quase toda a vida numa pequena propriedade rural, em
Maserada Sul Piave, cidadezinha no Norte da Itália, a poucos quilômetros de
Treviso e Veneza.
Nasceu
em 1902 e faleceu em 1976. Perdeu a mãe cedo e auxiliou muito na criação de
seus cinco irmãos homens. Casou cedo, teve sete filhos. Um deles, quando tinha 48
anos. Em acidente automobilístico,
perdeu o marido, quando ele tinha 60 e ela 52. Vestiu preto desde então. Não se
casou de novo. Alguns anos depois, perdeu um filho que tinha 32 anos. Seguiu
vivendo, trabalhando, tomando conta da horta, dos canteiros de flores, dos
animais, do parreiral e rezando.
Não
tinha empregados fixos, só ajudantes eventuais. Nas horas de maior necessidade,
ajudava os parentes e amigos próximos, e eles a auxiliavam. Três filhos
emigraram para o exterior - a vida na Itália depois da Segunda Grande Guerra
estava bem difícil. Nunca vi aquela mulher baixinha, determinada, de olhos
claros, se queixar muito ou fazer dramas. Nunca a vi maquiada.
Costumava
fazer um pequeno coque com os longos cabelos brancos e, quando era preciso,
usava um lenço. Viajou poucas vezes. Em geral para cidades próximas. Ida
cozinhava muito bem, geralmente com ingredientes naturais. Não costumava falar
mal dos outros. Quando era o caso, sorria. Ida poderia ter inspirado Milton
Nascimento a escrever Maria, Maria. Ida faleceu há quase 40 anos. Sua história,
seu exemplo e sua energia estão aí, para inspiração.
Dedicação,
vida simples, natureza, filhos, amor sem tamanho. Ela parece estar me dizendo
que nem deveria tirá-la do anonimato, que fez a sua parte, serenamente, sem
solicitar retribuições, que não precisava desta homenagem. “As pessoas não se vão,
ficam encantadas”, como disse Guimarães Rosa. As pessoas só se vão mesmo quando
ninguém mais lembra delas.
Ou não.
Quem sabe não vivem em outras dimensões, sem depender dos desmemoriados que
ainda circulam por aqui ? Quem sabe não se tornam estrelas?
Jaime
Cimenti
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