10
de maio de 2013 | N° 17428
PAULO
SANT’ANA
A casa do cachorro
Se
você morar ou for proprietário de uma residência de um condomínio de luxo no
Litoral pode cogitar que esse local foi mal licenciado pelo órgão ambiental?
Chega-se
a um ponto em que bate essa desconfiança. Por sinal, os moradores desses condomínios
de luxo já andaram sendo fotografados por helicópteros da Receita Federal.
A
respeito, poderiam matar minha curiosidade: por que esses mendigos que moram
embaixo das pontes nunca foram fotografados pela Receita Federal?
Por
isso é que muita gente diz que um morador de rua pode ser muito mais feliz e
tranquilo com sua consciência do que um nababo que reside num condomínio de
luxo.
Embora
seja necessário e imperioso dizer, antes que mal me entendam, que a maioria
esmagadora dos proprietários de casas em condomínios de luxo seja constituída
de pessoas idôneas e honradas.
É interessante
que se constate que muitas vezes uma pessoa tem na praia, num condomínio de
luxo, uma casa maior, mais faustosa e mais bem equipada do que o apartamento em
que reside na Capital.
Esses
dias fui comer um churrasco numa casa de condomínio de luxo em Capão da Canoa,
a convite de um médico otorrino que lá veraneia.
Meus
amigos, em verdade lhes digo: a casa do cachorro do meu anfitrião era maior do
que o apartamento em que resido.
Fiquei
com inveja daquele cão, até ar-condicionado havia na casa do cachorro.
Vejam
o caso desses empresários de futebol, a nova classe que ganha milhões com
vendas e compras de craques. Quase todos eles não resistiram à tentação de
comprar casas em condomínio de luxo no Litoral.
Lá nos
condomínios de luxo do Litoral, é que se pode conhecer quem merecidamente deve
ser chamado de rico.
Mais
ricos que aqueles que moram lá só mesmo os que possuem jatinhos, embora muitos
que moram nesses condomínios também possuam jatinhos.
Eu
costumo, quando passo pelo Litoral, visitar alguns condomínios de luxo, só pra
me humilhar. Fico feliz quando me considero um humilde, um pobre coitado,
baseado no Evangelho, que afirma que é mais fácil um camelo passar pelo furo de
uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus.
Não
estou querendo atirar os ricos no inferno, só que eu me serenizo porque, se não
é difícil a mim que sou pobre entrar no reino dos céus, então tenho chance de
residir no domicílio do Senhor.
Nesse
dia em que fui comer churrasco no condomínio de luxo do Litoral, à entrada fui
submetido a uma revista numa porta de segurança giratória, com detecção de
metal. Quase fui barrado porque minha bengala tem cabo de prata, a única joia
que ostento em minha pobreza franciscana.
Corre
a lenda, e deve ser só uma lenda, que há casas de condomínios de luxo do
Litoral em que, quando o dono recebe para uma festa, os garçons servem os
convidados de motocicleta.
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