sexta-feira, 10 de maio de 2013



10 de maio de 2013 | N° 17428
DAVID COIMBRA

Meninos

Minha amiga Priscila Montandon enviou-me um vídeo, outro dia. Um comercial de TV de algum país estrangeiro. Inglaterra, talvez.

Os protagonistas são dois meninos de cerca de 10 anos de idade. Eles brincam pelas ruas do bairro em que moram. Correm juntos às gargalhadas, lutam com galhos de árvore como se fossem espadas de corsário, um ajuda o outro a se dependurar no travessão da goleira de um campinho de futebol, depois eles caçoam de três meninas que estão sentadas num muro, provocam-se um ao outro, simulam um round de boxe.

Fazem coisas de menino.

Finalmente, chegam em casa. Um deles abre a geladeira e de lá tira uma garrafa de suco de laranja. Bota dois dedos de suco amarelo em dois copos e completa com água da torneira. Lado a lado, bebem gostosamente. Por fim, um deles adormece sentado no sofá da sala.

O outro lhe tira os tênis com cuidado. Em seguida, toma-o nos braços e sobe com ele as escadarias que levam ao segundo piso da casa. No quarto, aconchega o menino adormecido na cama e cobre-o com os cobertores quentes. Então, a cena final: meio dormindo, meio acordado, o menino na cama, sem abrir os olhos, murmura:

– Boa noite, pai.

E a câmera desliza para a porta do quarto, onde está não o menino de 10 anos que ele imaginava acompanhá-lo o dia inteiro nas correrias pela cidade, mas o adulto que dele cuida desde que nasceu, seu pai, que, antes de sair, responde num sussurro carinhoso:

– Boa noite, amigo. Nesse momento, ao terminar de assistir ao vídeo, lembrei do meu filhinho de cinco anos de idade, e veio-me à mente a cena de nós dois correndo em volta da mesa da sala, eu rosnando me fazendo de monstro terrível, ele tentando fugir e rindo e gritando por socorro, e senti um nó me apertando a garganta e pensei que não estou sabendo mais por estar mais velho. Estou, apenas, sentindo mais.

Se você quiser assistir ao vídeo, a despeito de eu ter contado o final, vá ao meu blog em zerohora.com ou no clicrbs.

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