04
de maio de 2013 | N° 17422
PAULO SANT’ANA
Escrever para ser
lido
São
99% de tudo o que se escreve em todo o mundo que não são lidos por ninguém.
Escrevem,
escrevem, escrevem e ninguém lê.
Por
exemplo, compra-se ou assina-se um jornal e só se lê 10% dele. Montanhas de
papel são gastas para ninguém ler.
Sem
falar nos livros. Há muitos livros que nem são adquiridos, vão para o lixo das
livrarias.
E há
milhares de livros que são lidos só nas primeiras páginas e logo abandonados, o
leitor lê só as primeiras páginas e refuga todo o resto.
Em
colunas de jornais, também acontece isso, a maioria dos leitores só lê o
primeiro parágrafo, enche-se e passa para outro espaço.
Aqui
no Rio Grande do Sul, houve dois casos, em períodos diferentes do passado, de
dois escritores que eram famosíssimos como sendo dos melhores e ninguém os lia.
Ninguém.
Por
sinal, um dia ainda vou ensinar a técnica de não fazer o leitor só ler o
primeiro parágrafo, de prendê-lo até o fim da coluna.
Tenho
usado essa técnica para prender o leitor de ZH há 43 anos. Modéstia à parte,
com sucesso, tanto que nas últimas 15 pesquisas de 15 edições o call center de
ZH registrou que fui primeiro lugar em leitura em oito dias. Fora os segundos
lugares e os terceiros.
E é
voz corrente no Rio Grande que a maioria amassante das pessoas começa a ler
este jornal por esta coluna.
Então,
tenho autoridade para ensinar. Provada.
Eu
acho um grande desperdício tudo o que se escreve e ninguém lê. Devia haver uma
lei para obrigar as pessoas a lerem tudo o que se escreve, mas não há: funciona
aí perfeitamente o critério de liberdade de escolha, ninguém pode obrigar a
outrem ler algo absolutamente desinteressante.
Mas
o que mais me impressiona são as pessoas que escrevem e não têm consciência de
que não são lidas: há casos de pessoas que escrevem há 40 anos e ninguém as lê,
são um mistério de sobrevivência. Pensam que são lidas e prosseguem escrevendo
num vazio abissal de leitura.
Ninguém
as chama para dizer-lhes: “Espera aí um pouco, cara, ninguém está te lendo,
muda de técnica, vê se passas a escrever algo interessante”.
É
impressionante a alienação das pessoas que imaginam erradamente que são lidas.
Há
casos de pessoas que escrevem diária ou semanalmente há mais de 30 anos e nunca
houve sequer um leitor que lembrasse de uma só coluna sua ou tivesse decorado
sequer um pensamento seu. É bárbaro.
Há
casos também de colunistas que na rua se encontram com uma pessoa e perguntam:
“Leste a minha coluna hoje?”. A resposta é: “Não li”. E o cara de pau ainda
observa: “Não sabes o que perdeste”. E o outro pensa consigo assim: “Tenho
certeza, a julgar por tudo o que esse alienado tem escrito, de que não perdi
absolutamente nada”.
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