03
de maio de 2013 | N° 17421
DAVID
COIMBRA
Sem solução
Havia
uma repórter ladina na RCE, a rede de rádios de Santa Catarina que tivera a
temeridade de me contratar como gerente de jornalismo, tempos atrás. Era, a repórter,
do tipo “fuçadora”. Uma perdigueira. Certa manhã, chamei-a e disse:
– Vamos
agitar a cidade. A partir de hoje, tua missão vai ser uma só: visitar os
hospitais.
– E
fazer o quê? – Nada. Só esperar. – Esperar pelo quê? – Que as histórias te
procurem.
E
foi o que aconteceu. As histórias a procuravam sofregamente. A cada dia, ela
voltava para a Redação com mais histórias, às vezes dramáticas, às vezes trágicas,
volta e meia curiosas, sempre comoventes. A certa altura, tornou-se impossível
dar vazão do tanto que havia para contar.
Alguém
pode achar que relato isso para valorizar a minha ideia. Nada disso. Não foi
uma ideia brilhante; foi uma ideia óbvia. Um hospital é um centro de sofrimento.
As pessoas estão lá porque estão passando por algum padecimento. E, num país do
tamanho do Brasil, é impossível a rede de saúde satisfazer a demanda.
Somos
mais de 200 milhões de brasileiros. Todas as pessoas, em certo momento da vida,
vão ter algum problema de saúde, a não ser que morram antes – a morte, de fato,
resolve qualquer problema de saúde em definitivo. Logo, com os brasileiros
continuando vivos, posso afirmar que, se o orçamento inteiro da União, 100%,
fosse destinado à saúde, nem assim todos teriam bom atendimento.
É assim
no Brasil, como é em qualquer país do mesmo porte, seja na Índia, seja na Rússia,
seja nos Estados Unidos. Sempre se pode e se deve tentar melhorar, é claro, mas
o problema jamais será resolvido. Certos problemas nunca serão resolvidos, num
país deste tamanho. O Estado sempre será devedor e seus esforços sempre serão
insuficientes na área da saúde, no Brasil. E a crítica sempre será fácil.
Quando
alguém diz que os recursos que o Brasil aplicará na Copa e na Olimpíada farão
falta à saúde, diz a verdade. Mas também espalha uma ilusão. TODOS os recursos
fazem falta à saúde.
O
que será aplicado na Copa e na Olimpíada não seria aplicado na saúde se o
Brasil não realizasse a Copa e a Olimpíada. Não haveria uma aplicação mais útil,
simplesmente porque não haveria aplicação alguma. A Copa e a Olimpíada servirão
para que o Brasil faça o que jamais seria feito se não houvesse Copa ou Olimpíada.
As
ruas abertas, os aeroportos modernizados, os novos estádios e hotéis, nada
disso aconteceria sem Copa e Olimpíada. E a saúde continuaria sem solução.
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