03
de maio de 2013 | N° 17421
R$ 350
MIL NO CARRO
Servidor confessa propina na Fepam
Quando
a Operação Concutare veio à tona na segunda-feira, a Polícia Federal informou
que um montante de cerca de R$ 570 mil em cédulas de real, euro e dólar havia
sido recolhido na execução de mandados de busca e de prisão. O que não se soube
no dia era que 60% do valor estava nas mãos de um único suspeito. Ricardo
Sarres Pessoa, servidor da Fepam, carregava R$ 350 mil no carro. Ele confessou
o recebimento de propina de empresários.
Flagrado
pela Polícia Federal (PF) com cerca de R$ 350 mil guardados em um carro na
garagem de seu prédio, o servidor da Fepam Ricardo Sarres Pessoa, 63 anos,
admitiu em depoimento que recebia propina de empresários interessados na liberação
de licenças ambientais.
Mais:
deu nomes de supostos corruptores e detalhes do esquema de concessão
fraudulenta de documentos em prol de interesses privados. Pessoa foi o único
dos 18 presos da Operação Concutare que não foi levado ao Presídio Central, em
Porto Alegre.
Permaneceu
na carceragem da PF e prestou mais de um depoimento desde o momento de sua prisão,
na manhã de segunda-feira. No começo da noite de terça, foi solto, depois de a
polícia comunicar à Justiça Federal de que ele havia colaborado espontaneamente
no depoimento.
O
advogado de Pessoa, Lúcio de Constantino, disse ontem que a orientação para seu
cliente agora é aguardar a conclusão das investigações sem falar sobre o
assunto. Constantino não quis comentar o teor do depoimento do servidor, mas
ressaltou ter sido “esclarecedor”.
Geólogo
e atuando na Fepam há pelo menos 10 anos, Pessoa confessou que recebia dinheiro
de empresas privadas com interesses junto à fundação. Teria dito que parte dos
R$ 350 mil apreendidos pela PF é dinheiro lícito, mas que o restante trata-se
de propina. O valor representa 60% do montante apreendido pelos policiais na
segunda-feira, dia em que a Concutare foi deflegrada. A PF executou 28 mandados
de busca e apreensão.
A
investigação não registraria ligação de Pessoa com o Instituto Biosenso, de
propriedade do ex-secretário do Meio Ambiente Berfran Rosado (MD, ex-PPS), que
também atuaria de forma fraudulenta junto à Fepam.
A
atuação de Pessoa estaria relacionada a outro grupo de investigados. Na segunda-feira,
depois de desencadear a Concutare, a PF explicou que nem todos os presos e
suspeitos integram o mesmo grupo. A assessoria da Secretaria Estadual do Meio
Ambiente disse ontem não ter condições de informar detalhes da ficha funcional
de Pessoa. Ele estaria lotado no setor de licenciamentos da Fepam.
Depoente
aponta canal de pagamento
Pessoa
relatou à PF que era procurado diretamente por intermediários – como
consultores – que atuavam em nome de empresas privadas. Em trecho de documento
da Justiça Federal sobre a investigação, há registro de que Lúcio Gonçalves da
Silva Junior, também preso, seria um dos que pagavam propina ao servidor da
Fepam. “(...) no exercício de sua atividade de consultoria ambiental, Silva
Junior consolidou-se como a possível e principal fonte de pagamento de propina
ao servidor Ricardo Sarres Pessoa, uma vez que canalizava a ele os valores
encaminhados pelos empresários beneficiados pela emissão de licenças ambientais
(...).”
Em
outro ponto, a investigação registra que o empresário Gilberto Pollnow, dono da
Pollnow & Cia Ltda, remeteu R$ 10 mil a Pessoa, por meio de Silva Junior,
por conta da expedição de uma licença de operação, e que a quantia teria sido
paga na residência do servidor. Segundo registro da polícia, Pessoa já havia
sido indiciado em dois inquéritos da PF por delitos contra a administração
ambiental e por falsidade ideológica.
adriana.irion@zerohora.com.br
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