01
de maio de 2013 | N° 17419
EDITORIAIS
O TRABALHO E AS
LIBERDADES
A
presidente Dilma Rousseff decidiu não comparecer às manifestações promovidas
neste 1º de maio, em São Paulo, pelas duas maiores centrais sindicais do país.
Uma das concentrações, promovida pela Força Sindical, terá a presença de dois
pré-candidatos de oposição à presidência da República, o mineiro Aécio Neves,
do PSDB, e o pernambucano Eduardo Campos, do PSB. Neste clima de guerra fria
que precede o ano eleitoral, é natural que os sindicalistas procurem pressionar
o governo pelo atendimento de reivindicações, entre as quais a redução da
jornada de trabalho para 40 horas e o fim do fator previdenciário.
O
governo, por sua vez, procura manter-se afastado da cobrança pública das
demandas, preferindo apresentar, como contraponto às pressões, novas medidas
pontuais de estímulo à aquisição de bens domésticos, que poderão se agregar aos
programas para a população de baixa renda.
São
movimentos normais, que procuram adequar as atitudes dos governantes às
conveniências políticas também em datas especiais. O que foge da pauta do 1º de
maio, até por falta de motivações mais interessantes referentes às questões
trabalhistas, é a obsessão das alas radicais da CUT, que insistem em colocar
como prioridade a regulação da mídia com um evidente viés censor e autoritário.
É
uma tentativa de protagonismo, num cenário em que prevalece o pleno emprego, a
estabilidade assegura ganhos de renda e as empresas invertem, ao procurar e nem
sempre encontrar mão de obra especializada, situações que caracterizavam o
mercado de trabalho até pouco mais de uma década atrás.
A
verdade é que as centrais enfrentam a falta de bandeiras. Os excluídos do
mercado formal, logicamente sem vínculos com atividades sindicais, não fazem
parte do público preferencial das entidades. Calcula-se que 20% dos
trabalhadores assalariados brasileiros não têm carteira assinada.
O
país convive ainda com relações de emprego precárias, que muitas vezes
caracterizam regime de escravidão. E a legislação específica criada há 70 anos
já não consegue contemplar direitos e deveres, defasados pelos avanços das
últimas décadas. Mesmo assim, poucos desses e de outros temas são atraentes
para as centrais, fragilizadas pela falta de urgências que mobilizem seus
filiados, como ocorria quando a economia estava desarrumada e os altos índices
de inflação corroíam os salários.
É
nesse ambiente que a CUT procura conquistar simpatizantes à tese de que a
comunicação no Brasil necessita de algum tipo de controle – mesmo que o setor
seja marcado pela diversidade, nos veículos e na produção de conteúdo
jornalístico e de entretenimento. O que a CUT não explicita é o desejo,
encoberto na retórica da pluralidade, de submeter a informação a enquadramentos
políticos e ideológicos.
Há
exemplos próximos de tentativas semelhantes, algumas com certo êxito para seus
idealizadores, na Venezuela e na Argentina, onde a imprensa independente e a
liberdade de expressão incomodam quem está no poder. O 1º de maio, que já foi
mais inspirador, desafia a criatividade dos líderes do sindicalismo, para que
as grandes questões abordadas na data do trabalhador sejam de fato do interesse
dos homenageados.
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