30 de julho de 2016 | N° 18595
ANTÔNIO PRATA
TUDO SOB CONTROLE
Faltam apenas cinco dias pro início da Olimpíada. Enquanto esbaforidos funcionários do COB correm de lá pra cá atrás de tampas de privada, eletricistas, encanadores, faxineiras e cangurus, bem longe dali, num bunker antiatômico, políticos, acadêmicos, agentes da Abin, membros do Rotary, do Lions, da Gaviões, da Mancha e da Charanga Rubro-Negra se reúnem numa Sala de Emergência, em local mantido sob sigilo absoluto – bem, pelo menos até Michel Temer enviar, sem querer, um zapzap pro grupo de pais da escola do Michelzinho informando “Graal Pindamonhangaba, oitavo subsolo, basta torcer o pescoço da garça de espelho, a prateleira de doces de mocotó girará 90° e uma porta abrir-se-vos-á, revelando-vos o elevador”.
O objetivo do grupo é decidir o que fazer caso os jogos deem errado, isto é, caso o país trate os gringos nestas semanas como trata seus cidadãos o ano inteiro. Um dos participantes, político renomado, conversou comigo. “O Brasil não aguenta mais um baque. Foram 300 anos de escravidão, duas ditaduras, o gol do Ghiggia, Plano Funaro, Plano Cruzado, Plano Collor, 300 anos de Ricardo Teixeira, dois episódios dos Simpsons zoando o país, tomada de três pinos, chacina terça, quinta e sábado, tortura segunda, quarta e sexta, domingos com culto do pastor Silas Malafaia, os 7 a 1 da Alemanha, o discurso da mandioca, 300 anos de Programa do Gugu, a votação do impeachment, 300 anos do jingle do Eymael e a barragem que se rompeu, meses atrás, soterrando a nação sob os rejeitos do PMDB. Se cair uma arquibancada, se neguinho puser fogo em ônibus, se uma bala perdida, dessas que se perdem todo dia, no Rio, encontra um gringo, amigo, o país entra em colapso.”
Segundo a fonte, em caso de fiasco olímpico, a Sala de Emergência trabalha com dois cenários. O primeiro, mais simples, chamado de Braxit (e apelidado de Brashit), seria desistir do país, vendê-lo para algum dos líderes presentes, dividir a grana desigualmente – em respeito à tradição – e cada um que se vire. “Vai ter muito material sendo levado embora, muito contêiner de delegação sendo despachado, só aí já dá pra mocosar uns 100, 200 mil patrícios”, sugere. “O resto pode ir depois, de carro, de ônibus, de pedalinho, de patinete, sei lá.” Questionado se não seria complicado alojar 200 milhões de brasileiros num momento de intensa migração mundial, afirmou: “Complicado é, parceiro, mas aí já não é problema nosso”.
A segunda opção, mais complexa, caso o país dissolva feito Sonrisal num mar de lágrimas, é trabalhar com uma política de redução de danos. “Se o caldo entornar, a partir da Sala de Emergência nós temos condições de estar implementando, em menos de 24 horas, do Oiapoque ao Chuí, o Carnaval. Sapucaí, Globeleza, Olodum, Galo da Madrugada, ator americano em decadência trançando as pernas no camarote Brahma, a zorra toda.” E depois do Carnaval? – pergunto. “Aí a gente já emenda na Páscoa, manda o Abílio pendurar ovo em tudo quanto é canto, depois da Páscoa todo mundo sabe que já é quase Natal, o povo vai se preocupar com as compras e ninguém mais vai lembrar da Olimpíada. Ou seja, tá tudo sob controle”.
Tudo sob controle. Como diria o Barão de Coubertin, criador dos Jogos Olímpicos modernos, “Citius! Altius! Fortius!” – e seja o que Deus quiser.
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