sexta-feira, 29 de julho de 2016


29 de julho de 2016 | N° 18594 
DAVID COIMBRA

O corredor da prisão


Essa foto foi publicada tempos atrás pelo Tulio Milman, no Informe Especial. É um flagrante de um dos corredores do Presídio Central. Repare: é o corredor, não uma cela. Os homens estão ali porque as celas se encontram lotadas. Eles tentam dormir. Há detentos de pé, encostados às paredes. Outros jazem no chão cru. Os que estão de pé esperam sua vez de descansar. É preciso fazer revezamento, simplesmente porque não há espaço para todos.

Assim são as noites no Presídio Central.

Estou republicando essa foto exatamente para repisar o assunto, para repetir algo que venho dizendo há muito tempo: hoje, no Brasil, é mais importante construir presídios do que universidades.

Em primeiro lugar, por causa dos presos – por humanidade. As condições dos presídios brasileiros são tão ruins, que as sociedades protetoras dos animais deveriam se mobilizar em protesto. Nenhum bicho merece ser tratado dessa forma.

Em segundo, por sua causa. Sua, que digo, é você, cidadão honesto, contribuinte e trabalhador. Porque não há como resolver o problema de segurança pública sem resolver o problema dos presídios. É preciso haver lugar para acomodar os presos, e um lugar decente, porque uma das funções da pena continua sendo a regeneração.

Arrisco-me a dizer que 70% dos dramas brasileiros seriam resolvidos se fossem resolvidos os dramas da segurança pública. O trânsito seria desafogado, porque as pessoas não teriam medo de usar o transporte público. Haveria mais comércio de rua e mais consumo, porque haveria mais circulação. Até as cidades ficariam mais belas, porque não seriam necessários aparatos de segurança como essas feias grades na frente dos prédios.

Rode por Porto Alegre. É deprimente: Porto Alegre é uma cidade atrás de barras de ferro. Os cidadãos se protegem com cercas altas, algumas eletrificadas, outras com arame farpado, como campos de concentração.

Mais do que celulares, dinheiro e carros, roubaram a cidade do porto-alegrense.

A segurança pública é o dever número 1 do Estado. Mais do que educação, mais do que saúde, o Estado tem de garantir segurança e justiça.

A foto do corredor do Presídio Central demonstra que não há nem uma, nem outra por aqui. É a falência do Estado. E o pior: é o fracasso da sociedade.

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